sábado, 6 de fevereiro de 2021

Jornal EXPRESSO - David Dinis _ Director-adjunto = "Uma agitação chamada Ventura - e um confinamento com uma lição" . NOTA DO BLOG: Leiam todas as semanas o jornal EXPRESSO.

 

David Dinis

Diretor-adjunto

Uma agitação chamada Ventura - e um confinamento com uma lição

06 FEVEREIRO 2021 
                                                                                                           
 

  Viva!



Que mês este, que passámos juntos. Janeiro foi tempo de eleições presidenciais, aquelas onde Marcelo venceu a abstenção e foi reeleito Presidente para mais cinco anos, um êxito que agora lhe entrega o maior desafio da sua vida. Também aquelas onde a esquerda teve uma derrota, e a direita ficou com um problemacomo bem escreveu Daniel Oliveira, numa das crónicas que assinou aqui no Expresso.


Sim, o ‘problema’ à direita é a subida exponencial de André Ventura, líder do Chega, que aqui escalpelizámos. Por exemplo, explicando de onde vem o voto em Ventura? (Resposta: De zonas despovoadas, com mais idosos, estrangeiros e alunos com maior dificuldade em acabar o ensino básico).

Mas também procurando resposta à pergunta que se segue: Porque é que o Chega une Cascais e Chelas? Ou ainda esta conta simples: Se Ventura multiplica por sete, quantos deputados poderia valer o meio milhão de votos nas presidenciais?


O crescimento (muitas vezes previsto) do líder do Chega levou-nos também à estrada, até ao Alentejo, onde vimos e contámos o que se dizia: “Nas próximas eleições vai ser a grande surpresa. E depois não há nada a fazer, temos de aguentar”. Assim como levou o diretor do jornal a deixar um alerta: É bom que ouçam aquelas 500 mil cruzesQuanto a mim, pôs-me a ler os estudos científicos sobre a ascensão da direita radical lá fora, concluindo aí que a direita já chamou os populistas ao Governo (e perdeu com isso).


Esta semana, na edição semanal, olhámos para outro ângulo da nova relação à direita. A investigação Expresso revelou aí que a ‘geringonça’ de direita nos Açores já tem nomeações recorde e família à mistura.

Mas janeiro foi mês de confinar, outra vez.
 Foi aos poucos, em duas semanas que terminaram com a jogada arriscada de Costa: 14 recuos e correcções às regras e uma aposta na responsabilização individual

Mas acabou por ser um confinamento total, depois de termos contado que os Hospitais pediram ajuda urgente: já havia doentes transferidos de Lisboa para Covilhã e AlgarveHoje, sabemos como foi a seguir: problemas de oxigénio no Amadora-Sintra, filas de ambulâncias no Santa Maria, urgências e cuidados intensivosa sem margem de manobra.


As críticas atingiram o pico esta semana, pelo que falámos com o Governo para saber como olha para o que aí vem ainda. A resposta trouxe uma interrogação: Agora, “nervos de aço”. Depois, remodelar?


Mas entrámos em fevereiro ainda em estado e alerta. Chegámos, aliás, com Um país em carne viva, onde nos hospitais se pergunta “como se escolhe quem vive e quem morre?”. A reportagem que Christiana Martins escreveu na Revista desta semana começa por responder assim: Morremos todos.


Por tudo isto, escrevemos-lhe também este mês que passou sobre o medo. Melhor do que isso, sobre como vencer o medoAssim é melhor - o nosso papel é, também, construir.

Procurando ser-lhe útil, nestas semanas fizemos uma radiografia ao impacto da pandemia nos vários sectores da economia. Mas não sem lhe deixar um guia sobre os apoios que pode pedir: seja para o novo apoio social, seja os disponíveis para proteger as empresas da pandemia em 2021


Agora é tempo de respirar fundo: é que aliviar antes do fim do mês é “muito arriscado”. Depois virão melhores dias.


A propósito, este foi o mês do arranque do processo de vacinação. Regra geral, com um problema de fornecimento (a nível europeu), mas também de… enfim. Sabe como foi, pelo que lhe deixo a crónica episódica do plano paralelo de vacinação que, se juntarmos aos casos de violação do confinamento na clandestinidadee contrastarmos isso com o heroísmo dos profissionais de saúde e dos que resistem em casa a tudo, nos dá uma enorme lição sobre este mês que acabou: em tempos extremos, o ser humano é mesmo capaz do melhor e do pior.

Nós, por aqui no Expresso, tentamos a cada dia superar esse desafio interior: dar o nosso melhor, por si, pelo rigor, pela informação, pela verdade.

É por isso, também, que gostamos de a/o ter connosco: por saber que, estando ao nosso lado, estamos na melhor companhia.

Deixo-a, deixo-o hoje com um obrigado, e com esta última recomendação de leitura, do texto que mais assinantes trouxe ao Expresso no último mês: chama-se “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”: totalitarismo, vigilância e linguagem. E é o ensaio de Gonçalo M. Tavares sobre a atualidade do livro de George Orwell, no momento em que toda a obra do autor entra no domínio público. Na hora certa, acrescento eu.


David Dinis                                                                                 

Email: ddinis@expresso.impresa.pt

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