Os
“Avós” e os “Pais “ dos telemóveis actuais
Crónica publicada no jornal O PRIMEIRO DE JANEIRO em 29.07.2011
Muitos utentes de telemóveis, não fazem ideia quando se
iniciaram as comunicações móveis em Portugal, e o que se passou, até chegar aos
sofisticados e pequenos aparelhos que utilizam no dia a dia, que os colocam em
contacto imediato com outra pessoa, praticamente em qualquer lugar da Terra. É
para darem o devido valor a esta extraordinária tecnologia, e a avaliar como
foi complicado esse nascimento, que passarei a historiar a evolução, datas,
tipos de aparelhos, e valores em escudos de então. Antes disso, é bom lembrar
que as comunicações telefónicas, eram feitas exclusivamente através de
telefones fixos, alugados à Companhia dos Telefones, aparelhos pesados, com uma
manivela, através da qual se chamava a telefonista, e lhe dizíamos o nº para
onde queríamos a ligação. Eram as chamadas Centrais de Comutação Manual, que
eram por isso assistidas por telefonistas. Em 1942 deu-se início à
automatização da rede, feita por fases, e só em 1985 se efectuou a conclusão da
rede telefónica nacional. Usavam-se uns aparelhos que tinham um disco com
orifícios, correspondentes aos algarismos, discando-se então o nº pretendido. A
seguir aos telefones de disco, surgiram uns mais modernos, já com teclas, cada
uma com um algarismo correspondente. Usavam-se aparelhos fixos, e sempre alugados,
o que era dispendioso para fazer uma chamada, e limitativo para quem fazia, e
para quem recebia, pois estava-se preso aos locais de emissão e recepção onde
estavam instalados os aparelhos. Quem não tinha telefones em casa, recorria às
cabines públicas. Os telefones sendo fixos, coarctavam ainda a liberdade, a
confidencialidade das conversas, e as necessidades de contactos urgentes. Em
1988 chegaria o advento da nova era das comunicações telefónicas.com a novidade
da MOBILIDADE, surgindo o que eu apelido dos “Avós “ dos telemóveis, que
foram, uns pequeninos aparelhos, que cabiam numa mão, chamados Pagers ou Bips, com
mini ecrã, um nº próprio, e estavam ligados a um operador: TELEMENSAGEM desde
1988 (operador público) e TELECHAMADA desde 1992, depois integrada na
VODAFONE-TELECEL. Havia dois modelos: Uns, designados NUMÉRICOS, porque no ecrã
aparecia só um nº de telefone, o qual esperava contacto do portador do Pager, e
a pessoa que recebia esse sinal, visível no ecrã, (e auditivo, porque soavam
uns bips,) tinha que ir a um telefone fixo e fazer uma chamada para o nº que leu.
Outros modelos eram designados ALFANUMÉRICOS, porque recebiam mensagens, e o
receptor teria que responder para um telefone fixo, ou se fossem mensagens a
dar indicações, bastava-lhe apenas dar seguimento ao apelo recebido. Fosse a
mensagem para Numérico ou Alfanumérico, a pessoa que queria contactar o dono do
Pager, tinha que, através de um telefone fixo, ligar para o Operador dos Pagers,
e ditar: o nº do Bip (identificando o seu telefone fixo), e o que queria
transmitir, se fosse para um pager alfanumérico. Foi um grande progresso,
porque possibilitava que, quem tivesse um pager, recebesse em qualquer local,
interno ou externo, um pedido para entrar em contacto para o telefone X, ou no
caso dos alfanuméricos, um pedido para tratar de algo, sem ser necessário ir a
um telefone. Os aparelhos custavam entre 18 a 26 mil escudos.
Faço notar que isto
se tornou possível através de Operadores constituídos de propósito para o
efeito, e no princípio estava muito restrito a uma área com rede muito
diminuta, pois só abarcava zonas em volta de Lisboa e Porto! Mesmo com essas
restrições, já dava muito jeito, pois conseguiam-se resolver na hora, muitas
situações, que sem a mobilidade de comunicações telefónicas, não seria possível.
O reinado dos Pagers, foi relativamente curto, pois o serviço da TELECHAMADA
veio a terminar em 2001 com o lançamento de tecnologias alternativas, SMS e
GPRS. Assim surgiram o que eu apelido de «Pais» dos telemóveis, que eram
uns aparelhos enormes, transportáveis, pesados, ligados a uma grande bateria,
com uma enorme antena (que nos automóveis obrigava muitas vezes a perfurar o
tejadilho, para a respectiva instalação), muito caros, (os primeiros custavam
500 mil escudos!) e funcionando através de um operador próprio, com uma rede de
cobertura de início muito escassa. Mas foi também um sucesso! Só aquela
hipótese de, em muitos sítios, sem telefones fixos, fazer uma chamada e falar
de viva voz com outra pessoa, era extraordinária! Depois, ainda surgiram
telefones móveis mais práticos e mais baratos, (para montar num carro custavam
260 mil escudos) e com redes muito amplas, e logo a seguir começaram então a
surgir mais operadores e os telemóveis mais pequenos, mais versáteis, com uma
evolução técnica galopante até à maleabilidade que todos nós constatamos hoje
em dia.
HENRIQUE DE ALMEIDA CAYOLLA
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