domingo, 19 de julho de 2020
A obesidade mental - livro do prof Andrew Oitke , por JOÃO CÉSAR DAS NEVES: Nota da administração do blog- LEIAM, RELEIAM e PARTILHEM . MUITO, MUITO BOM!
A Obesidade Mental
Andrew Oitke
Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim
da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de
obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e
sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento,
progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.»
POR JOÃO CÉSAR DAS NEVES*
O professor Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental
Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e
relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia
em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que
considerava o pior problema da sociedade moderna. «Há apenas
algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do
excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.
Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da
informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais
sérios que esses.» Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais
atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de
lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se
em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos,
condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não
conhecem nada. Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual
são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e
filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e
telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances
são os donuts da imaginação.» O problema central está na família e
na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão
doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende,
então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental
das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma «alimentação intelectual» tão
carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e
equilibrada.» Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: «o jornalista alimentase hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações
humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.» O texto descreve como os
repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte
morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.» Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. «o
conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem
quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham
que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas
ignoram o que é um cateto».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. «Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes
realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a
cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das
trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no
raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta
mental.»
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