TRANSCRIÇÃO
Olá, hoje vamos falar da importância do toque. Não é do toque da alvorada, tive um flashback dos meus tempos de exército, não, do toque.
Eu acho que deve haver poucos de nós que não estejam a ressacar de tocarem, não é? De nos abraçarmos, de beijar a aquelas bochechas rosadas das crianças, de enfiar o braço num amigo a caminho de um restaurante, uma patuscada se me permitem o termo. E isto é mais que natural, em contrapartida é um bocadinho menos do que o provável, não é, quer dizer, tanto os políticos como os especialistas da área da saúde nos dizem o novo normal não vai ser o normal a que estávamos habituados e o toque entra nisso, não é? Quando falamos de distanciamento mais depressa estaremos também a falar de alterações na possibilidade de tocar e isto é para e não se resume ao prazer afetivo que nos proporciona, cuidado. Aqui há diferenças culturais e diferenças individuais, se calhar ouviram alguns nórdicos dizer - Ai, não, não é preciso estarmos com grandes precauções porque nós não apreciamos muito essa exagerada aproximação. Nós já praticamos distanciamento social. - e é verdade. Nós, latinos somos muito mais de beijos e abraços do que outras populações e variações individuais. Alguns de nós são incapazes de falar com outra pessoa sem lhe mexer, por exemplo e nem se quer é um toque afetivo, é quase um tique, há outras pessoas que pelo contrário não gostam muito de ser tocadas, mas em termos gerais, o que eu vos queria dizer, o que alguns poderão imediatamente decretar que é um álibi meu, porque estou com vontade de me abraçar aos meus netos, se calhar também, mas eu trouxe as referências.
O toque, o contato físico, é estudado pela ciência e tem importância, vou-vos dar alguns exemplos, vocês sabem, a questão do toque nem se põe só connosco, com os humanos, os outros primatas passam grande parte do tempo a tocar-se e esse toque estabelece hierarquias, facilita o aparecimento de alianças, é uma manifestação de afeto e como em nós, tem capacidades terapêuticas. Não é um psiquiatra a alucinar. O toque, numa outra pessoa, que está stressada com muita frequência, provoca uma diminuição de stress, uma diminuição da frequência cardíaca, ou seja acalma a pessoa.
Há uma experiência lindíssima em que as pessoas por orifícios metem os seus antebraços e do outro lado, põe do outro lado e são tocadas por outras pessoas e pede-se que quem toca, toque do modo que acha que tocaria para exprimir um determinado tipo de sentimento. O afeto, ou preocupação, ou irritação, etc... e dizem os meus colegas que fizeram a experiência que a probabilidade de acertar rondava os 8%. Houve gente a acertar entre 50 a 60% das vezes o que é impressionante. Ou seja, nós conseguimos discriminar os toques, além de beneficiarmos deles. Em termos de fisiologia, alguns já adivinharam, aparentemente o toque físico, liberta mais oxitocina, que é considerado, digamos assim, o composto químico da ligação. Não é por acaso que nas situações da maternidade, tudo o que tem a haver com as crianças, etc... a oxitocina está no top 10 digamos assim daquilo que se passa em termos bioquímicos.
Mas não é só isso. Há outras coisas que são importantes, por exemplo nós sabemos que, vejam que bonito, nós sabemos que se fizermos experiências e sabe Deus que aos longo da história da medicina se fizeram muitas, sobre a sensibilidade à dor, se quem está a fazer o papel de indivíduo da experiência estiver de mão dada com o seu namorado ou a sua namorada, refere menos dor que quando está sozinho, é ou não é intrigante? Isto mostra bem que o contacto físico próximo, pode proteger, não só em termos psicológicos, não é por acaso que nós pomos o braço à volta dos ombros de alguém que está a passar um mau bocado, mas também em termos mesmo físicos e não resisto até, eu pensei muito antes de referir este dado porque para alguns de vocês pode ter o efeito que eu não quereria que é, quase pôr-vos de sobreaviso para com o ato que é considerado um ato muito nobre no amor. Mas sabem que há colegas meus a dizer que quando nós damos um beijo de amor daqueles que mimetizam os beijos de hollywood, etc... e que aliás deram origem a uma discussão muito curiosa porque isso chama-se “French kissing”, porque em teoria os Franceses é que teriam inventado esse tipo de beijo, digamos assim, que seguramente sempre existiu. E uma vez uma historiadora Portuguesa provou por A + B que na corte Portuguesa isso já se fazia. portanto deveria chamar-se “Portuguese kissing”, mas isso sou eu como de costume a deixar-me levar para outros campos de interesse.
Estava eu a dizer-vos, há colegas que dizem - Quando nós beijamos alguém na boca passam de cá para lá e lá para cá milhões de bactérias - parece ser de pôr os cabelos em pé, não é. É que ao haver esta troca nós estamos a contribuir para o desenvolver de imunidade na outra pessoa e vice-versa. Porque nem todos temos digamos assim, as mesmas bactérias, voltando ao início, aquilo com que nós nos defrontamos agora é com a saudade de muitos gestos, de gestos que simbolicamente são muito importantes mas que é a ciência que o diz, se calhar o exemplo mais importante e eu ia-me esquecer dele, vocês sabem que nas crianças prematuras, quando elas são tocadas, por exemplo com intervalos de 15 em 15 minutos ganham peso mais depressa do que se isso não acontecer? Vocês sabem que em orfanatos onde não há contato caloroso com as crianças o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo é muito mais prejudicado do que naquelas que têm uma família à sua volta? Olhem, lembrei-me agora, de à muitos anos, havia uma canção de Diana Ross de uma mulher que dizia ao seu amante que ia partir que então pelo menos, antes de se ir embora que a tocasse de manhã, chama-se “Touch me in the morning”.
Nós estamos e é mais do que aceitável, cheios de vontade de tocar, não sabemos o que nos vai ser permitido, uma coisa temos obrigação, aquilo que não nos for permitido devemos transmiti-lo de outras formas e nunca se esqueçam disto, quando o afeto está lá, até um olhar pode simular o toque de uma mão. Cuidem-se, até à próxima.
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