quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

EXPRESSO - Liberdade para informar - OPINIÃO - Henrique Monteiro

Expresso #liberdadeparainformar SITE PROVISÓRIO Menu OPINIÃO Pior do que a maioria absoluta Um fantasma paira sobre o BE e, em parte, sobre o PCP e toda a esquerda. Quando decidiram não apoiar o OE 2022 do Governo PS, pensaram que apenas corriam um risco remoto: a maioria absoluta do PS. Agora veem que se enganaram e correm um risco maior; quem sabe até se dois riscos Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedInEmail this to someone 08:00 26 Janeiro, 2022 | Henrique Monteiro As ideias têm consequências. E as más ideias podem ter más consequências. Ou não. Por exemplo, quando o BE decidiu não apoiar o OE de 2021, em plena pandemia, porque sabia que o PS com o PCP, o PAN e mais uns restos conseguia uma aprovação do documento, pareceu-lhes boa ideia. Ficavam livres para criticar, soltavam as amarras e entregavam aos seus principais inimigos (digo bem, os outros são adversários) do PCP o ónus da magra governação PS. Um ano depois, já com quase dois anos de pandemia, o PCP seguiu o caminho do BE, convicto, talvez, que os seus inimigos (digo bem, idem) não seriam tão estúpidos que deixassem o PS cair. Enganaram-se. O PCP é um partido responsável, dentro da sua linha irresponsável, e mediu o BE por eles. Só que estes são mesmo irresponsáveis, dentro da linha irresponsável. Assim, o OE foi chumbado, apesar dos votos do PAN e das deputadas independentes. Marcelo já tinha acenado com a dissolução do Parlamento e com eleições subsequentes. Foi o que se passou. Na cabeça dos líderes bloquistas e comunistas, essas eleições tinham um risco: o PS ter maioria absoluta. Mas apostaram que tal não aconteceria. Nesta parte – tudo o indica, mas vá-se lá saber – apostaram bem. O PS ganharia as eleições sem maioria e haveria de precisar de alguém para governar. Aí abriam-se duas hipóteses e meia: a meia era o PAN (que parecia em fulgurante crescimento) fazer maioria com os socialistas; nunca foi hipótese muito credível, mas era uma possibilidade. Os outros dois caminhos eram clássicos: um bloco central, mesmo que não houvesse coligação, que deixaria meio PS em pé de guerra, com Pedro Nuno Santos a fazer tremer os joelhos de quem ousasse; ou o PS sozinho, tal qual estava, mas dependente – ideológica, política e parlamentarmente do BE ou do PCP, consoante os resultados. Naturalmente, ambos os partidos veem vantagens e inconvenientes de se amarrarem demasiado ao poder. As vantagens estão nas nomeações para cargos, ainda que secundários e nas cedências, ainda que ligeiras, que podem obter. Os inconvenientes, na maior dificuldade em protestar, ser oposição firme e lançar umas frases ribombantes. E assim se avançou. Só que, a meio caminho, ou no ponto em que estamos, aquele que era o pior cenário deixou de o ser. O BE e o PCP correm o risco de ver o PSD vencer as eleições. E isso tem, desde logo, vários inconvenientes. O primeiro é ficar com a marca de ter derrubado um governo mais à esquerda para dar lugar a um mais à direita. Nas cartas dos leitores do ‘Público’ alguém diz que sempre foi assim, o PS derrubado pela aliança da esquerda e direita, mas não sabe o que diz. Dá o exemplo de Cavaco, que terá vencido depois de uma dessas. Falso! Cavaco venceu as suas primeiras eleições (sem maioria) porque o PSD (Cavaco) acabou com o Governo de ‘Bloco Central’ que o antecedeu; depois dá o exemplo do Governo Durão Barroso… Falso! Barroso ganhou (por pouco) umas eleições na sequência da demissão de Guterres, no célebre episódio do pântano; por último fala de Passos… bem, aí pode dizer que a esquerda e a direita votaram contra o PEC IV, mas foi Sócrates que se demitiu. E, de qualquer modo, o Governo já era de tão triste fama, que ninguém o colocava à esquerda ou à direita. Conclusão: é a primeira vez – sublinho – que um Governo que foi aliado do PCP e do BE cai com os votos destes partidos. Por isso, objetivamente, o PCP e o BE são responsáveis por esta situação. Podem interpretar e dizer que era, justamente, o que queria o PS, na ânsia de uma maioria absoluta. Porém, ao passo que a primeira afirmação – eles são responsáveis – é factual, esta segunda é interpretativa. O segundo desastre é que, acaso o PSD forme Governo, seja com quem for – da abstenção do PS à benevolência do Chega –, o BE e o PCP além de perderem influência no Governo, tornam-se irrelevantes. Sobretudo se a direita obtiver uma maioria. Quem ouvir o que eles dizem, ou ler o que escrevem (Louçã, aqui no Expresso) compreende o pavor que têm. Quem ouvir outros protagonistas da esquerda, como Rui Tavares, entende a responsabilidade que lhes será imputada. Quem ficar atento ao PS perceberá que mesmo que o sucessor de Costa seja alguém muito à esquerda, vai ter de fazer um período de nojo em relação a esses partidos. Em nome das bases e do eleitorado do PS. Não quero dizer que isto vá acontecer. Tenho uma relação com as sondagens abalada desde há mais de 20 anos. Não sei o que se irá passar, mas sei que isto parece uma possibilidade. E se o for, abençoada falta de acerto na análise do BE (e do PCP). Talvez essa estultícia possa salvar o país de danos piores.

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