terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

VISTOS da MÃE E 2 IRMÃOS MENORES de ISABEL BAPALPEME já foram processados

SOCIEDADE “Estou tão feliz, mas tão feliz”: vistos já foram processados e Isabel vai ter a família em Portugal Quatro anos depois dos primeiros apelos médicos junto da Embaixada Portuguesa em Bissau, a mãe e os dois irmãos menores de Isabel Bapalpeme terão muito em breve a documentação que lhes permite viajar para Lisboa, confirma o MNE Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedInEmail this to someone 21:51 8 Fevereiro, 2022 | Joana Pereira Bastos, Raquel Moleiro e Ana Baião (Foto) Na segunda-feira ganhou a burocracia, hoje venceu a urgência. O visto para a mãe e para os dois irmãos menores de Isabel Bapalpeme poderem viajar para Portugal, onde a jovem guineense aguarda sozinha por um transplante de pulmão, já foi processado e muito em breve será emitido. A garantia foi dada ao Expresso pelo gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros. “O pedido de visto já foi processado pela Embaixada em Bissau e remetido para parecer das entidades competentes em matéria de entrada de estrangeiros em Portugal, aguardando-se a emissão a breve trecho”, assegura. Depois de ontem a mãe de Isabel, Sábado Bapalpeme, ter saído da Embaixada de Portugal em Bissau sem ter conseguido sequer iniciar o pedido, travado pela exigência de uma extensa lista de documentação e novos relatórios médicos, esta quarta-feira disseram-lhe para regressar. E, por fim, a urgência clínica do caso refletiu-se no andamento do processo administrativo, que acabou por dispensar grande parte da burocracia. Para isso foi decisiva a pressão de Augusto Santos Silva sobre a embaixada da Guiné. Na segunda-feira, ao fim do dia, o ministro contrariou as exigências pedidas e anulou a necessidade de novas declarações médicas. “O ministro deu instruções à secção consular da Embaixada em Bissau para não exigir mais do que o relatório médico já apresentado, visto que é pública e notória a necessidade da cidadã que se encontra em Portugal de ter acompanhamento familiar nas circunstâncias muito difíceis de saúde por que está a passar”, informou o MNE. Isabel ainda está incrédula com a notícia. “Estou tão feliz, mas tão feliz que não sei o que dizer. Parece um sonho”. O Expresso publicou na passada sexta-feira a história da jovem guineense de 29 anos a quem uma tuberculose destruiu os pulmões e que vive num t1, no Barreiro, sem qualquer familiar, porque a embaixada ignorou há quatro anos os pedidos médicos para a emissão de visto para a mãe. Mesmo com o aparelho portátil de oxigénio em débito máximo, Isabel já quase não consegue sair de casa. Nos últimos meses foi desistindo, uma a uma, das rotinas que mantinha dentro do bairro. Ela tenta falar, quer falar, mas falta-lhe fôlego. Tinha 15 anos quando a tuberculose a apanhou numa aldeia no meio do mato, na Guiné-Bissau, onde vivia. Foram oito anos de tosse, febre, o corpo cada vez mais magro até aos 27 quilos, em 1,73 m, com que chegou a Portugal, de urgência, ao abrigo do programa de cooperação internacional para a saúde. Internada em 2014 no Hospital Pulido Valente, em Lisboa, foi-lhe debelada a doença, mas as lesões eram irreversíveis. O transplante é a única solução. Até lá, espera sozinha, presa a um fio azul de vários metros que a liga ao concentrador de oxigénio colocado na entrada da casa e que lhe permite circular pelo pequeno apartamento. O silêncio em que vive só é interrompido pelo som da máquina que a liga à vida. “Queria muito a minha mãe aqui. Não consigo sorrir desde 2008 e eu não era assim. Era alegre, espontânea. Mas agora o meu mundo está a fechar-se”, desabafa. O suporte familiar é um dos fatores fundamentais para um doente poder ser transplantado. Isabel está em lista de espera, mas o facto de viver sozinha é um obstáculo ao sucesso da intervenção. Por isso, os médicos que a acompanhavam no Centro Hospitalar Lisboa Norte enviaram, em 2018, duas cartas à Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau apelando à emissão de um visto para a vinda da mãe. Nenhuma das missivas, onde era descrita a gravidade da situação e a necessidade “fundamental” da presença da família, teve resposta. E apesar dos apelos humanitários, em março de 2019 o pedido de visto foi recusado, por “não ser possível comprovar a intenção da requerente [a mãe, Sábado Bapalpeme] de abandonar o território antes do visto caducar”. Ou seja, por não existir uma data de regresso da mãe, temendo-se a permanência irregular em Portugal. Ao Expresso, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) justificou esta recusa com o facto de a mãe ter pedido o visto errado: “A referida cidadã apresentou um pedido de visto Schengen sem preencher os respetivos requisitos. Deveria ter requerido um visto nacional de estada temporária para acompanhamento de familiar sujeito a tratamento médico (tipologia E7).” Mas a embaixada nunca lhe explicou isso, mesmo sabendo, pelas cartas dos médicos, que se tratava de uma situação de saúde. Isabel é agora seguida no Centro Hospitalar de Lisboa Central, a que pertence o Hospital de Santa Marta, o único no país a fazer transplantes de pulmão. Apesar de estar há mais de dois anos a ser acompanhada na consulta de transplantação, só recentemente entrou em lista de espera ativa. Havia doentes mais urgentes e até há pouco tempo a jovem conseguia a fazer a sua vida com o recurso a oxigénio, mesmo com grandes limitações. Mas o seu estado agravou-se. “O pulmão direito está completamente destruído e o esquerdo já tem grandes dificuldades”, explica Luísa Semedo, responsável da equipa de transplantação pulmonar. De quanto tempo vai ser a espera, ninguém sabe: há cerca de 60 pessoas na mesma lista. Neste momento, qualquer esforço pode fazê-la colapsar.

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