quarta-feira, 4 de maio de 2022
CONDECORAÇÕES - PSD contra medalhas a Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves
CONDECORAÇÕES
PSD contra medalhas a Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves
PSD é o único partido a colocar-se, pelo menos em parte, ao lado do Chega FOTO Tiago Miranda
FOTO TIAGO MIRANDA
Sociais-democratas acusam os dois militares de terem tentado transformar a democracia nascida da Revolução de 25 de Abril numa “nova ditadura” de sentido contrário
LILIANA COELHO
Apolémica decisão do Presidente da República de condecorar todos os militares de Abril está longe de ser consensual, tem sido alvo de críticas e divide os partidos. À esquerda, BE e PCP contestaram a condecoração ao general António de Spínola, enquanto o Chega manifestou-se desde logo contra a intenção de Marcelo de distinguir todos os militares envolvidos na Revolução dos Cravos. Até aqui em silêncio sobre o tema, o PSD assume agora ao Expresso que também não concorda com a atribuição generalizada de medalhas aos militares do 25 de Abril. E há dois nomes, em particular, que contam com a discordância dos sociais-democratas: Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves.
“São duas personalidades que, objetivamente, tentaram que a democracia conquistada em 25 de abril de 1974 se viesse a transformar numa nova ditadura de sinal contrário à que tinha acabado de ser derrubada”, diz ao Expresso fonte da direção do partido.
Embora admita que a condecoração dos militares de Abril é “sempre suscetível de criar injustiças”, porque diz respeito a um “conceito relativamente vago” e não é fácil definir o “universo que abarca” face aos “diversos intervenientes”, o PSD entende que Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves deviam estar fora da lista de medalhados a título póstumo.
Para o PSD, ao pensar-se na Junta de Salvação Nacional e naqueles que mais se distinguiram no órgão de governo provisório instalado pelo Movimento das Forças Armadas em abril de 1974, esses dois militares “não podem merecer a concordância” do partido para “efeitos de uma condecoração pela democracia”.
IL RECUSA PRONUNCIAR-SE SOBRE DECISÃO DE MARCELO
Contactado pelo Expresso, o grupo parlamentar do Iniciativa Liberal (IL) escusou-se a comentar a decisão do chefe de Estado de condecorar os militares de Abril: “É uma questão do PR. Não é tema para o IL se pronunciar”, disse ao Expresso fonte do partido.
O PSD é, assim, o único partido a colocar-se, pelo menos em parte, ao lado do Chega, cuja posição é conhecida (ver texto nesta página) e foi levada à tribuna na sessão solene do 25 de Abril no Parlamento, com André Ventura a dirigir-se diretamente ao PR.
PSD diz que a condecoração dos militares de Abril é “sempre suscetível de criar injustiças”
À esquerda, o Bloco e o PCP já se tinham insurgido também contra a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa de condecorar todos os militares envolvidos na Revolução de Abril. Mas por razões e protagonistas diferentes. Francisco Louçã criticou este mês, em declarações ao Expresso, a distinção póstuma atribuída ao general António de Spínola, enquanto o PCP considerou que a homenagem não deve ser feita “aos que contra a Revolução conspiraram”, mas sim a todos os que contribuíram para que a “Revolução fosse possível”, com a “conquista da democracia e da liberdade”. A esquerda não esquece a alegada ligação de Spínola à organização de extrema-direita MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal) — responsável por vários atentados com bombas, que mataram o padre Maximino Barbosa de Sousa e a sua aluna Maria de Lurdes — e não concebe, por isso, que o ex-general possa ser condecorado ao lado de outros oficiais revolucionários.
Já o PS saiu em defesa das condecorações a todos os militares de Abril, assumindo um tom harmonizador. Pedro Delgado Alves defendeu esta semana, em entrevista ao “Público”, o “intuito conciliador, abrangente, generoso e adequado ao 25 de Abril” das condecorações atribuídas pelo chefe de Estado. E na cerimónia solene do 48º aniversário do 25 de Abril no Parlamento, o deputado socialista voltou a realçar o objetivo concertador e reparador da história da decisão de Marcelo. “Comemorar o 25 de Abril é, em primeiro lugar, honrar a memória dos que resistiram, sofreram e tombaram para que a liberdade fosse possível”, declarou Pedro Delgado Alves, assinalando que este ano os dias em democracia superam o número de dias em ditadura.
A proposta de condecorações foi feita por Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril e é agora atendida pelo PR. Da lista constam 200 militares da Revolução. O capitão de Abril já se congratulou com a intenção do atual PR, considerando que Marcelo “acaba por ser quem faz a justiça de condecorar todos” os militares do 25 de Abril. O objetivo será condecorar todos os militares até ao fim das comemorações dos 50 anos da Revolução. Tal como o Expresso avançou, Marcelo vai deixar para 2024 as condecorações mais polémicas, como António de Spínola, Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves.
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