E, agora, para algo completamente rebuscado. Imaginemos que Cristo descia à terra por nós, para nos pôr no ar. A voar. E a acreditar que as coisas impossíveis se tornam possíveis no mesmo dia, quase à mesma hora. E imaginemos que Deus fazia tudo isto através do Seu interlocutor preferido, de nome Francisco, que nos faz crer em milagres - e em comunistas que vão à missa. E não falamos de uns comunistas quaisquer, mas daqueles da velha guarda, como Raúl Castro, irmão de Fidel, que voou para Itália e conversou com Francisco no Vaticano e de lá saiu um homem novo. Ele acredita n'Ele e eu contado não acreditava nisto. "Eu sou do Partido Comunista cubano, onde não eram permitidos crentes; mas, a partir de agora, admitimo-los. É um passo importante. Vou voltar a rezar e a ir à igreja. E não estou a brincar." Raúl Castro ainda agradeceu ao Papa o papel de mediador no fim ao embargo EUA-Cuba e prometeu ir a todas as missas quando este visitar Cuba em setembro.
De Roma voamos para Moscovo: duas pessoas que já estiveram frente a frente com Francisco e que não se podem ver à frente, puseram-se lado a lado para uma cerimónia histórica. Vladimir Putin convidou Angela Merkel a assistir, por inteiro, ao fim de semana do 70.º aniversário da derrota da Alemanha Nazi - e a Frau recusou. É que dois dias na Rússia eram um dia a mais, e Merkel escolheu ir só no domingo: faltou à musculada parada militar de sábado mas, ontem, depositou flores no Túmulo do Soldado Desconhecido, fotografou-se com crianças e comportou-se como uma boa convidada. Até ter de falar. Aí, lembrou a Putin dos rebeldes que ele financia na Ucrânia e a anexação da Crimeia. Merkel estragou-lhe a festa; Putin ficou pior do que estragado. E de Moscovo aterramos em Lisboa, de onde se pode levantar voo à hora marcada (e sem desmarcar a vida), agora que a greve acabou. Até quando? Ninguém sabe, porque o que esta guerra nos mostra é que nada é certo. Nem a matemática: a TAP diz ter assegurado 70% dos voos; o SPAC garante que 50% ficaram em terra. Os números são como os milagres: cada um vê o que quer ver. OUTRAS NOTÍCIAS
[Da série, desporto] Pior do que um cego é aquele que não quer ver e Julen Lopeteguirepetirá variações sobre este tema até à rouquidão. Ou até à náusea. Depois de Jackson marcar o golinho da ordem que manteve o FC Porto a três pontos do Benfica, o espanhol disse não gostar de Jesus (o Jorge) e que alguém carrega o Benfica. Ao colo. Não foi nos braços mas em ombros que Steven Gerrard saiu ontem de Stamford Bridge após o Chelsea-Liverpool (1-1). O público londrino aplaudiu de pé o capitão-de-um-clube-só , que está de partida para os EUA no final da época. No meio de tanta emoção e homenagem, Gerrard confessou que podia ter assinado em três ocasiões pelo Chelsea de Mourinho e que só não o fez porque é do Liverpool desde pequenino. Esta fotografia mostra que não é bem assim como ele diz.
Mal na foto ficou Rafael Nadal, derrotado (3-6 e 2-6) por Andy Murray na final do Torneio de Madrid. Se os tenistas espanhóis são os craques mundiais da terra batida, então Nadal é o rei de todos eles - mas perdeu, com um britânico da Escócia, cuja tradição no pó-de-tijolo começa (e acabará) com ele. FRASES
" Depardieu quis matar-me. Mas eu ainda aqui estou." Juliette 'vai-tentando-Gerard' Binoche, numa entrevista ao Guardian, a propósito do rival francês que um dia disse à imprensa: "Não sei o que vêem nela. Ela não tem nada. absolutamente nada." Diva. " O Presidente não se pode autolimitar." Marcelo 'façam-como-eu' Rebelo de Sousa, sobre a notícia do Expresso no comentário de domingo na TVI. " O PSD devia ter feito uma colossal redução da despesa", Eduardo Catroga, de ábaco na mão, em entrevista ao Público " Então o melhor que Mourinho devia fazer pela sua amada Inglaterra não era deixar o futebol e dedicar-se à política?" John 'eu-gosto-é-do-Guardiola' Carlin, num texto no El País O QUE ANDO A LER Vivian tinha um andar militar, maquinal e pesado. E uma pronúncia estranha e indecifrável e as roupas que usava não eram menos estranhas e indecifráveis. Trabalhava como ama mas não era uma ama qualquer; depois, descobriu-se que não era sequer ama mas sim fotógrafa. Amadora. Que via o quotidiano com a máquina pendurada ao pescoço e a lente ao nível da barriga - e as fotos que ela nos deixou e que foram descobertas por acaso, num leilão de quinquilharia, são um murro no estômago. A incrível história de Vivian Maier deu vida a um documentário em que o autor é o recolector de memórias e depoimentos de quem com ela conviveu. Vivian é tudo: boa, má, assim-assim, carinhosa, agressiva, silenciosa, estridente, misteriosa - e, sobretudo, talentosa.
E acabam aqui os adjectivos porque açúcar a mais num expresso que se quer curto não é coisa recomendável. Amanhã, mais ou menos por esta hora, receberá um e-mail de um outro Pedro. Até já.
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