quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Expresso Curto


Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

POR JOÃO VIEIRA PEREIRA
Diretor-Adjunto

24 de Setembro de 2015

O que fazem 40 mil nerds em Lisboa?


Comecemos pelos resultados do Conselho Europeu sobre a crise dos refugiados. Incapaz de resolver a discussão que dura há meses, principalmente sobre o sistema de quotas na redistribuição de refugiados, a União Europeia fez aquilo que melhor sabe fazer:atirar mais dinheiro sobre o problema. Pouco, muito pouco, por parte de uma Europa que tinha a obrigação de conseguir falar a uma só voz sobre este tema.

O dinheiro, cerca de mil milhões de euros, será distribuído por agências internacionais que operam em alguns países vizinhos da Síria e pelos estados membros que recebam refugiados.

As declarações de Merkel são claras sobre qual é o caminho a seguir: “quanto mais dinheiro injectarmos para combater as raízes do problema, menos pessoas serão obrigadas a sair das suas casas”.

O ambiente tenso que se viveu na cimeira continuou cá fora comDonald Tusk, o presidente do Conselho Europeu que presidiu à cimeira, a avisar que a “grande onda de refugiados ainda está para chegar”. Lá dentro, há relatos de trocas de acusações mais ríspidas com o líder austríaco a acusar a Hungria de querer criar outro Holocausto. A resposta de Vicktor Orban foi esta: “eu disse-lhes que se eles não gostam da vedação nós podemos apenas deixar passar as pessoas da Hungria até à Áustria.” Sobre as quotas e as posições extremas de alguns países, nomadamente a Eslováquia … nada.

Agora voltemos ao tema que faz título deste Curto: O que fazem 40 mil nerds em Lisboa?
Juntam-se ao maior espectáculo do mundo. Falta um ano e dois meses para a Web Summit 2016, mas para já ficamos a saber que no próximo ano será realizada em Lisboa.

Paddy Cosgrave fundou há quatro anos aquela que se tornou a maior feira/encontro/conferência de negócios tecnológicos de todo o mundo. A Bloomberg apelida o encontro de Davos para nerds. E não é para menos.

A Web Summit começou com 400 empreendedores, mas a próxima edição, que se realiza em Novembro ainda na Irlanda, deverá receber mais de 30 mil visitantes, 2 mil sartups, mil investidores e 650 palestrantes em mais 21 sub eventos. Desde a edição do ano passado as empresas presentes conseguiram reunir mais de mil milhões de euros em capital.

Estima-se que o evento deste ano tenha um impacto superior a 30 milhões de euros na economia local. O primeiro-ministro irlandês,Enda Kenny, já veio dizer que está “muito desapontado” com a decisão do evento ter escolhido Lisboa para receber as próximas edições.

E porquê Lisboa? A explicação é dada por Paddy: “We chose Lisbon because of the strong infrastructure in the city, the world-class venue and the thriving startup community.” Que ainda recorre à análise de um dos mais considerados jornalistas da área tecnológica, Mike Butcher, para justificar a escolha “Lisbon is emerging as a genuinely new tech ecosystem in Europe, with Berlin-levels of cheapness but with Southern European weather”.

Outro ponto que ajudou Lisboa a ganhar a cidades como Dublin, Paris, Barcelona e Amsterdão, foi a Codacy. Uma startup portuguesa que se apresenta como sendo uma máquina de lavar loiça para sites e que, no ano passado, ganhou a competição de angariação de investimento da Web Summit. Entre 1500 candidatos.

A vitória de Lisboa levou inclusive Paulo Portas e Fernando Medina a trocarem elogios. Em plena campanha de legislativas.



OUTRAS NOTÍCIAS
Se uns ganham, outros perdem. E o grande perdedor da semana, do mês e talvez do ano é Martin Winterkorn. O agora ex-ceo da Volkswagen não aguentou a pressão do escândalo da falsificação da emissão de gases e bateu com a porta. A empresa alemã perdeu 30% do seu valor em bolsa. E o trambolhão estendeu-se a outras construtoras automóveis da Europa com base em receios que este escândalo possa levar ao fim da indústria de carros a diesel. A queda da VW é vista como um risco para a economia germânica maior do que a crise grega. Já muito se falou sobre este caso mas vale a pena revisitar como tudo começou, quase por engano, neste texto do The Telegraph.

E agora notícias da campanha. Vamos começar por rever as sondagens diárias. A tracking poll do Publico, TVI e TSF apresenta um crescimento da distância entre a coligação e o PS. PSD e CDS estagnaram nos 38.9% mas o PS cai para os 34.1%. Já asondagem diária da RTP apresenta uma ligeira recuperação dos socialistas, para os 35%. O que coloca a diferença para a coligaçãonos 5 pontos (40%).

E se quer saber o que andam os líderes os partidos a fazer basta seguir a cobertura que o Expresso está a fazer das legislativas.

Ontem foi a vez de Passos ser levado em ombros. No dia em que se ficou a saber que o défice de 2014 deverá ficar nos 7,2% por causa do Novo Banco e que dificilmente a meta de 2,7%, prevista para este ano, poderá ser atingida, (o Público titula hoje que meta do déficesó será atingida se o 2º semestre for o melhor desde 1999). Ângela Silva escreve como o primeiro-ministro tentou dar a volta ao temadizendo que o dinheiro emprestado ao Novo Banco “está a render”. Isto antes de partir para Bruxelas para o Conselho Europeu sobre refugiados, deixando Paulo Portas sozinho. Filipe Santos Costaconta-lhe como foi o dia de Portas, que aproveitou para se dedicar ao mar. Luisa Meireles escreve sobre a falta de recursos e de gente na campanha de António Costa, um problema reconhecido pelo próprio director de campanha.

Para ficar a saber todas as novidades sobre o que disseram e por onde andaram todos os partidos políticos não perca o resumo das últimas 24 horas de campanha.

Destaque ainda para a opinião de Bernardo Ferrão que lembra as trocas e baldrocas do líder do CDS com uma pergunta muito simples: “Em quem confia mais, em Paulo Portas ou Paulo Portas?

O Papa está de visita aos Estados Unidos onde apelou a um empenho da maior economia do mundo em combater as mudanças climáticas, a pobreza e os problemas dos migrantes. No discurso proferido num dos relvados da Casa Branca, perante 11 mil convidados, recordou que, ele próprio, nascido na Argentina, é “filho de uma família de imigrantes”, abordando desta forma um outro tema delicado nos Estados Unidos: “Estou feliz por ser um convidado neste país, que foi construído por famílias como a minha”. Pode ver aqui o vídeo das suas declarações. Ou seguir o seu percurso em solo americano neste excelente trabalho do Mashable.

Ainda sobre o Novo Banco e o impacto no défice de 2014 (que deverá ficar nos 7,2%) a Comissão Europeia veio esclarecer à agência Lusa que o impacto da operação deverá estar "limitado a 2014". Mesmo assim, a mesma fonte, diz que a Comissão Europeia irá actualizar a sua projecção para o défice de Portugal em 2015 no início de Novembro, quando publicar as previsões económicas de outono.

A descer, e muito, está a poupança das famílias. Os dados do INEmostram que a capacidade de financiamento das famílias, (no ano que terminou no segundo trimestre), ficou no 2,1% do PIB contra os 2,7% registados no trimestre anterior. Isto porque as famílias estão a poupar cada vez menos. A taxa de poupança está agora nos 5% o valor mais baixo desde que o INE publica estes valores.

O Facebook lançou ontem uma novidade que não vai querer perder. Vídeos a 360 graus. Ou seja que permitem que quem está a ver possa rodar a câmara enquanto a vídeo está em modo de play. Melhor do que ser eu a explicar é ver aqui como funciona, (atenção não funciona em telemóveis com o sistema IOS).

E como hoje é quinta-feira, é dia de Visão. A revista escreve queJoaquim Goes, um dos ex- administradores BES e que liderava o departamento de risco, acusa Morais Pires e Ricardo Salgado de terem conspirado para vender o papel comercial do GES através da rede de balcões do banco. Goes, na defesa que apresentou ao Banco de Portugal, diz que não foi possível prever os riscos do papel comercial porque havia “quatro olhos conluiados”.

FRASES
Estou a fazer isto no interesse da empresa, embora não reconheça qualquer atitude errada da minha parte” - Martin Winterkorn sobre a sua demissão da VW.

Pedro Passos Coelho e António Costa parecem, dois alcoólicos em reabilitação deixados à solta numa adega. Por ‘alcoólico’ entenda-se o político viciado em prometer muito mais do que cumpre”- João Miguel Tavares (Público).

Não me importo ser derrotado por equipas como o Celta, que jogam um futebol bom e limpo” - Luis Enrique, treinador do Barcelona que foi derrotado por 4-1 pelo Celta de Vigo.

O QUE EU ANDO A LER
A adolescência é a idade em que os pais se tornam difíceis

Existem ideias que são simplesmente óptimas. A publicação de ensaios pela Fundação Francisco Manuel dos Santos é exactamente isso. O último é um excelente pequeno livro de Maria do Céu Soares Machado. A actual directora do departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria, (o seu currículo é demasiado rico e vasto para estar aqui a descrevê-lo), escreve sobre “Adolescentes”. Foi-me recomendado no sábado passado e não resisti. É uma espécie de manual de instruções básicas para perceber os adolescentes. Por isso se tem filhos nessa idade, se vai ter, ou mesmo se já teve, vale a pena perceber porque se fala tanto desta fase da vida.

E porque esta rubrica, como escreveu Henrique Monteiro num destes Curtos, devia chamar-se o que eu ainda vou ler, deixo uma sugestão que já faz parte da minha mesa-de-cabeceira. Roubo-a de outro Henrique, neste caso de apelido Raposo. “Gente independente” é um romance intemporal de Halldór Laxness, Nobel da literatura em 1955.

A história, escrita em 1934 desenrola-se na Islândia, no início do século XX, e retrata a vida dos agricultores pobres que enfrentam uma sociedade baseada na servidão e um clima ainda mais austero. Como ainda não o li, aqui fica um excerto do resumo da obra. “Bjär­tur vive no limiar da auto-suficiência e conta apenas com a sua obstinação e força interior, rejeitando qualquer caridade. Vive num vale com reputação de assombrado, só confia no seu rebanho, no seu cão e no seu cavalo. A determinação de Bjärtur e a sua luta pela independência são genuinamente heróicas, assustadoras e chegam a ser cómicas.”

Este Curto fica por aqui. Amanhã regressa pela mão do melhor analista de política, segundo o professor Marcelo Rebelo de Sousa,Ricardo Costa. Nós por aqui só o tratamos por senhor diretor.



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