Não, não começo com o habitual bom dia. Depois do que aconteceu na sexta-feira à noite em Paris, «hoje é um dia reservado ao veneno (…) /
é um dia perfeitamente para cães (…) / não é um dia no seu eixo / não é para pessoas (…)», como escreveu António José Forte em 1983. Não, depois de 129 mortos em Paris, «(…) hoje não é um dia para fazer a barba /
não é um dia para homens / não é para palavras». Não, não há bons dias depois de uma noite assim.
Seis ataques lançados em 33 minutos em três locais distintos. 129 mortos, 352 feridos, cerca de 80 com muita gravidade. Sete homens divididos em três equipas. Retaguarda: Molenbeek-Saint-Jean, na região da grande Bruxelas. Os autores de outros atentados também tinham ligações a esta zona
. «Há quase sempre um laço com Molenbeek, há ali um enorme problema. Nos últimos meses muitas iniciativas foram tomadas contra a radicalização, mas é necessário também mais repressão»,
admitiu o primeiro-ministro belga, Charles Michel.E poderia ter sido evitado este massacre?
Consegue-se reconhecer o mal quando o vemos em plena rua? Pelo menos um cidadão francês reconheceu-o quando deu de caras com ele. Ou melhor, com eles. Estacionaram (mal) mesmo em frente à mesa do café onde se encontrava, a 3 minutos do Bataclan. Ele viu os quatro terroristas que atacaram a sala de espetáculos, onde foram massacradas 89 pessoas, duas horas antes do drama.
«Pareciam mortos-vivos», diz aquele a quem
Le Figaro chama de Christophe, por razões de segurança.
«Fui até ao carro dizer-lhes que estavam mal estacionados. Não abriram a janela e olharam-me maldosamente. Pareciam drogados». Pouco depois, começaram o massacre. E três horas depois nenhum deles estava vivo. Nem outros três que também participaram na operação. Fizeram-se explodir ou foram mortos pela polícia. Um deles,
segundo o New York Times, tem ascendência portuguesa. Ismael Omar Mostefai, de 29 anos, terrorista francês identificado como um dos responsáveis do ataque à casa de espetáculos Bataclan, em Paris, é filho de mãe portuguesa e pai argelino. Só o oitavo dos implicados está em fuga. Todos (ou quase) tinham nacionalidade francesa. E a polícia belga já deteve sete pessoas. Entretanto, já se sabia que um homem e uma mulher de nacionalidade portuguesa morreram no atentado.
O Governo nega para já uma terceira vítima.
Por detrás de tudo está o Daesh, o autoproclamado Estado islâmico. E não há dúvida que declarou guerra aos Estados ocidentais. O presidente francês, François Hollande, entendeu isso mesmo –
foi «um ato de guerra», disse – e mandou retaliar. Ontem mesmo, ao final da tarde,
Paris assumiu que a sua força aérea tinha atacado a cidade de Raqqa, um feudo do Daesh, destruindo um posto de comando e um campo de treinos.
Tanto quanto se sabe,
não houve vítimas civis. Entretanto, Hollande fez saber que quer prolongar
o estado de emergência por três meses, o que exige uma lei especial a ser aprovada pelo parlamento.
Se quer compreender mesmo tudo o que está em jogo então recomendo-lhe
análise que o diretor do Expresso, Ricardo Costa, faz sobre o tema, que intitula «Rushdie, Bombaim, Paris e nós». No Público não perca os textos de
Jorge Almeida Fernandes,
«O medo e o resto», e de
Carlos Gaspar, «O regresso da barbárie». No Diário de Notícias procure
o editorial de André Macedo,
«A Europa não pode cair», e as colunas de
Viriato Soromenho Marques,
«Os ingredientes do mal», e de
Bernardo Pires de Lima,
«Made in ISI
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