Pouco passava das 21:30, já tínhamos fechado a edição do semanário, a redação esvaziava-se, era sexta feira 13.
“Há tiros em Paris!”. Tiros?... “Um tiroteio! Mais de 40 mortos! A CNN diz 60, não é certo”. Quarenta? Sessenta? Olhámos uns para os outros, teremos todos receado o mesmo, outro Charlie Hebdo.
Era pior. Escrevemos
a primeira notícia, a contagem dos cadáveres começava. Na
última notícia,
são já
129 mortos, 352 feridos, 99 deles em estado muito grave. Duas delas são portuguesas. Soubemos ao fim da manhã de
Manuel Dias. Soubemos de
Priscila Correia ao princípio da noite.
É a primeira vez que publicamos um Expresso Curto a um sábado à noite. 24 horas depois daquelas malditas 21:30, estamos entre o como aconteceu e o como pode não voltar a acontecer.
A noite foi uma loucura, pânico, horror, sangue, choro. Também há
tiros no Le Bataclan,
parisienses refugiados em bares e cafés, começam a ouvir-se os primeiros relatos, um homem em lágrimas
que conta que a sua irmã foi morta, no
França-Alemanha julgaram que eram petardos, as ruas estão bloqueadas, as
fronteiras são encerradas em França, os parisienses barricam-se em casa, não dormem,
criam hashtags para dar abrigo,
procuram-se pessoas no Facebook,
fica-se ligados às notícias,
as redes sociais estão a arder, "
começaram a decarregar às cegas sobre as pessoas com armas automáticas",
Paris está em estado de guerra.
há votos de solidariedade e confissões de horror (
Obama,
Cameron,
Steinmeier,
Merkel,
Juncker,
Tusk,
Putin).
Hollande fala ao país (e à Europa), surgem os primeiros rumores, as primeiras notícias, o sábado está acabado quando noticiamos que o
Estado Islâmico quis “vingar a Síria”, é domingo de manhã quando
Hollande declara “
foi um ato de guerra do Estado Islâmico”, uma hora depois o
Estado Islâmico reivindica oficialmente a autoria dos atentados em Paris,
França é o berço do jiadismo.
Os jornais franceses
acordam de luto, a
Direita francesa endurece o discurso, este é o
atentado mais mortífero dos últimos 10 anos na Europa. É domingo, o
aeroporto de Gatwick, em Londres, é evacuado, um cidadão
francês é identificado como possível terrorista.
É hora de compreender o que isto significou (vale mesmo a pena ouvir o
Rui Cardoso explicar que França teve o seu 11 de setembro) e o que isto pode significar (o
Ricardo Costa explica aqui as consequências militares, políticas e nas leis de segurança interna).
É hora também de ver e contar. "
No 11º, o bairro mártir de Paris" (reportagem do Daniel Ribeiro, em Paris). "
Hoje não vou ver os U2 em Paris" (explica o Miguel Cadete, que tinha o bilhete na mão). E de um outro jornalista do Expresso (o Nelson Marques), que estava no coração de Paris e tinha ido jantar ao sítio certo porque não tinha ido jantar ao sítio errado. "
Não sabes, mas salvaste-me a vida".
São 21:30, sábado. Já nasceu
um símbolo, pela paz e por Paris. Nós continuamos aqui.
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