terça-feira, 23 de novembro de 2021

PEGO - manual de como não encerrar uma central com os pés - 23 NOVEMBRO 2021

 

Pego – manual de como não encerrar uma central com os pés

À semelhança do que aconteceu com a Refinaria de Sines, o governo de António Costa, e principalmente o ministro do Ambiente, agiram, com os pés, de forma irresponsável e com o único intuito de parecerem os “bons alunos do ambiente”

23 NOVEMBRO 2021 9:15

O objetivo Europeu era o de encerrar todas as centrais termoelétricas até 2030, um compromisso consensual e adequado. Afinal Portugal só já tinha duas centrais a carvão a funcionar e teria sido fácil antecipar essa data sem grande esforço. Aliás, se houvesse planeamento e transparência o Ministro do Ambiente teria conseguido fechar a Central do Pego até ao final deste ano sem provocar uma crise social num território já bastante debilitado como é o Medio Tejo.

Em primeiro lugar, importa lembrar que a Central do Pego era a mais eficiente de todas as termoelétricas na Península Ibérica, a menos poluente do MIBEL (Mercado Ibérico de Eletricidade). Em segundo lugar, e ao contrário do que tem sido dito, o Pego não é responsável por 4,5% das emissões de carbono - isso seria se estivesse sempre a queimar no máximo da sua capacidade de 600 MW - já que há vários anos funcionava apenas como “reserva estratégica” e só era acionada “quando o sol não brilhava ou quando o vento não soprava”. Em 2020 trabalhou 7% da sua capacidade e em 2021 apenas 13%. Na maior parte dos dias esteve desligada. Em terceiro lugar, importa esclarecer que uma central destas só é “rentável” como reserva estratégica depois de estar amortizada, não compensa a ninguém construir uma de central de raiz, de carvão ou de gás, para ser uma reserva que só funciona em caso de escassez de outras fontes. Desta forma a Central do Pego era uma alternativa rentável à produção de energia verde apenas na medida em que as infraestruturas e o know-how já existiam.

Apesar de toda a propaganda, o Governo preparou este encerramento com os pés, sem planeamento e sem qualquer justiça apesar de tanto se falar de um Fundo para a Transição Justa. Se houvesse preparação o Governo teria seguido um de dois caminhos:

1. Preparava as repostas sociais, a transição profissional dos empregados e adiantava os concursos para as alternativas que virão a existir antes de ter encerrado a Central do Pego;

2. Em alternativa, tinha respondido ao Plano entregue pela Tejo Energia (PEGOP) ao Governo a 23 de julho, tal como solicitado por Matos Fernandes, que propunha substituir a Termoelectrica por um mix de Biomassa, Hidrogénio, Solar entre outras para funcionar também como reserva estratégica. A proposta da biomassa, para funcionar apenas como reserva estratégica (ou seja, de forma pontual que não queimasse toda a biomassa existente e consequentemente obrigasse a importar) permitia assegurar a continuidade imediata e manter os trabalhadores enquanto paralelamente se preparavam os investimentos nos outros projetos como o hidrogénio e o solar.

Aliás, é espantoso que o Governo venha agora, depois de 60 pessoas estarem já no olho da rua, com medidas e reuniões com a Segurança Social para encontrar respostas e alternativas. Aliás, a própria empresa substituiu-se ao Governo e já há cerca de um ano que tem uma consultora privada a proporcionar esse tipo de apoio aos empregados que aceitaram rescisões por mútuo acordo.

Recordo também que o Ministro do Ambiente não assegurou a continuidade de produção nem com a PEGOP nem com qualquer alternativa. Além de ter anunciado o concurso para a licença do famoso ponto de rede quando ainda negociava com a empresa do Pego, veio agora adiar o concurso para janeiro de 2022 e com decisão final para março do próximo ano. Ou seja, é impossível que alguma empresa possa começar a laborar em 2022 e que assim possa absorver os trabalhadores desempregados. Não houve aqui qualquer preocupação com a continuidade ou com a transição justa. Apesar das múltiplas declarações que fez a dizer que as empresas que contratassem trabalhadores da atual Pegop seriam valorizadas no concurso, o que Matos Fernandes se esqueceu de revelar foi que segundo os critérios que a Direção Geral de Energia enviou aos interessados, o prazo de contratação destes trabalhadores é de 4 anos após a seleção do vencedor. 4 anos para estas vidas é insuportável. Isto só revela falta de planeamento e falta de honestidade por parte do Governo.

Toda esta pressa em ficar bem na fotografia é ridícula porque não traz qualquer vantagem a Portugal e o contributo para o combate às alterações climáticas é pouco significativo já que sempre que precisarmos vamos importar de Espanha onde nas últimas semanas até foram reativadas duas centrais termoelétricas que tinham sido encerradas há menos de um ano, a Central de “As Pontes” da Endesa arrancou ontem e uma outra da EDP foi também já reativada.

À semelhança do que aconteceu com a Refinaria de Sines, o Governo de António Costa e principalmente o Ministro do Ambiente agiram, com os pés, de forma irresponsável e com o único intuito de parecerem os “bons alunos do ambiente”. Mas o oportunismo político tem pés de barro e as consequências são uma tragédia porque não asseguraram qualquer resposta aos impactos, qualquer plano de transição justa para os trabalhadores e para as empresas que dependiam da Refinaria de Sines e agora da Central do Pego. O desastre económico e social para ambas as regiões é tremendo e teria sido facilmente evitado se houvesse menos fanfarronice e mais planeamento.

A título de curiosidade sugiro a visita a ESTE SITE para verificar a produção de energia a partir do carvão em alguns países europeus. 36,27% da energia alemã provem do carvão, 39,15 % da República Checa é também alimentada a carvão. A Polónia 75% e a Holanda 23,5%. À hora a que escrevo este artigo Portugal importa 20% da energia que consome (mais de 1 GW) de Espanha que é abastecida com mais de 1GW proveniente de Centrais a Carvão.

Segundo o Ministro do Ambiente existem já três ou quatro empresas que assegurarão o investimento neste sector na região garantindo alguma continuidade. Só espero que não seja Matos Fernandes a escolher os concelhos conforme o cartão político pois importa lembrar que os principais concelhos afetados são Abrantes em primeiro lugar e depois Mação, Sardoal e Gavião.

P.S. Lê-se “Pégo”, e não “Pêgo”

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