em
1960
Acabemos de vez com este desbragamento, este
verdadeiro insulto à dignidade de quem trabalha para
conseguir atingir a meta de pagar as contas no fim do
mês.
Corria
o ano de 1960 quando foi publicada no "Diário do
Governo" de 6 de Junho a Lei 2105, com a assinatura
de Américo Tomaz, Presidente da República, e de A.
Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros.
Conforme
nos descreve Pedro Jorge de Castro no seu livro
"Salazar e os milionários", publicado pela
Quetzal em 2009, essa lei destinou-se a disciplinar e
moralizar as remunerações recebidas pelos gestores do
Estado, fosse em que tipo de estabelecimentos fosse. Eram
abrangidos os organismos estatais, as empresas
concessionárias de serviços públicos onde o Estado
tivesse participação accionista, ou ainda aquelas que
usufruíssem de financiamentos públicos ou "que
explorassem actividades em regime de exclusivo". Não
escapava nada onde houvesse investimento do dinheiro dos
contribuintes.
E que
dizia, em resumo, a Lei 2105?
Dizia
simplesmente que quem
quer que ocupasse esses lugares de responsabilidade
pública não podia ganhar mais do que um Ministro.
Claro
que muitos empresários logo procuraram espiolhar as
falhas e os buraquinhos por onde a Lei 2105 pudesse ser
torneada, o que terão de certo modo conseguido pois a
redacção do diploma permitia aos administradores, segundo
transcreve o autor do livro, "receber ainda
importâncias até ao limite estabelecido, se aos
empregados e trabalhadores da empresa for atribuída
participação nos lucros".
A
publicação desta lei altamente moralizadora, que ocorreu
no período do Estado Novo de Salazar, fará muito
brevemente 54 anos.
Em 13
de Setembro de 1974, catorze anos depois da lei
"fascista", e seguindo sempre as explicações do
livro de Pedro Castro, o Governo de Vasco Gonçalves,
militar recém-saído do 25 de Abril, pegou na ambiguidade
da Lei 2105/60 e, pelo Decreto Lei 446/74, limitou os
vencimentos dos gestores públicos e semi-públicos ao
salário máximo de 1,5 vezes o vencimento de um Secretário
de Estado. Vendo bem, Vasco Gonçalves, Silva Lopes e Rui
Vilar, quando assinaram o Dec.-lei 446/74, pura e
simplesmente reduziram os vencimentos dos gestores do
Estado do dobro do vencimento de um Ministro para uma vez
e meia o vencimento de um Secretário de Estado. O
Decreto- Lei 446/74 justificava a alteração nos referidos
vencimentos pelo facto da redacção pouco precisa da Lei
2105/60 permitir "interpretações abusivas", o
que possibilitava "elevados vencimentos e não menos
excessivas pensões de reforma".
|
Ao lermos hoje esta legislação, parece que se
mudámos, não de país mas de planeta, pois tudo isto se
passou no tempo do "fascismo" (Lei 2105/60) e do
"comunismo" (Dec.-Lei 446/74). Agora, está tudo
muito melhor, sobretudo para esses ?reis da fartazana? que
são os gestores estatais dos nossos dias: é que, mudando-se os
tempos mudaram-se as vontades e, onde o sector do Estado pesava
17% do PIB, no auge da guerra colonial, com todas as suas
brutais despesas, pesa
agora 50%. E,
como todos sabemos, é preciso gente muito competente e
soberanamente bem paga para gerir os nossos dinheirinhos.
Tão bem
paga é essa gente que o homem que preside aos destinos da
TAP, Fernando Pinto, que é o campeão dos salários de
empresas públicas em Portugal (se fosse no Brasil, de onde
veio, o problema não era nosso) ganha a monstruosidade de
420.000 euros por mês, um "pouco" mais que
Henrique Granadeiro, o presidente da PT, o qual aufere a
módica quantia de 365.000 mensais.
Aliás, estes dois são apenas o topo
de uma imensa corte de gente que come e dorme à
sombra do orçamento e do sacrifício dos contribuintes,
como se pode ver pela lista divulgada recentemente por um
jornal semanário (Sol), onde vêm nomes sonantes da nossa
praça, dignos representantes do despautério e da pouca vergonha a que chegou a vida
pública portuguesa.
Assim - e
seguindo sempre a linha do que foi publicado - conhecem-se 14 gestores públicos que ganham
mais de 100.000 euros por mês, dos quais 10 vencem mais de
200.000. O ex-governador do Banco de Portugal, Vítor
Constâncio, o mesmo que estima à centésima o valor do
défice português, embora nunca tenha acertado no seu valor
real, ganhava 250.000 euros/mês, antes de ir
para o exílio dourado de Vice-Presidente do Banco Central
Europeu.
Entretanto,
para poupar uns 400 milhões nas deficitárias contas do
Estado, o
governo não hesita em cortar benefícios fiscais a pessoas
que ganham por mês um centésimo, ou mesmo 200 e 300 vezes
menos que os homens (porque,
curiosamente, são todos homens..) da lista dourada que o
"Sol" deu à luz há pouco tempo.
Acabemos de
vez com este desbragamento, este verdadeiro insulto à
dignidade de quem trabalha para conseguir atingir a meta de
pagar as contas no fim do mês.
Não é
preciso muito, nem sequer é preciso ir tão longe como o DL
446/74 de Vasco Gonçalves, Silva Lopes e Rui Vilar:
Basta
ressuscitar a velhinha, mas pelos vistos revolucionária Lei 2105/60, assinada há
54 anos por Oliveira Salazar.
AFINAL, QUEM SÃO OS FASCISTAS?
|
Sem comentários:
Enviar um comentário