COLAPSO
DE ILHA VULCÂNICA DESENCADEIA TSUNAMI GIGANTE, CABO VERDE, HÁ 73000 ANOS
2015-10-05
(IPMA)
“A investigação agora publicada
na revista Science Advances
(http://advances.sciencemag.org/content/1/9/e1500456), mostra que um colapso
pré-histórico súbito de uma das mais altas e activas ilhas oceânicas – a ilha
do Fogo em Cabo Verde – produziu um tsunami gigante com consequências
catastróficas. As provas, que documentam o impacto destas ondas até pelo menos
220 m acima do nível do mar actual, foram encontradas na ilha de Santiago, 55
km a leste da ilha do Fogo. Este estudo reacende o debate que dura há algumas
décadas sobre se os colapsos gravíticos de ilhas vulcânicas ocorrem subitamente
e de um modo catastrófico, e se são capazes de gerar tsunamis de grandes
dimensões. Este trabalho confirma essa capacidade de gerar tsunamis de
proporções gigantescas.
As provas encontradas na
ilha de Santiago incluem campos de blocos rochosos, alguns da dimensão de
auto-caravanas, assim como sedimentos marinhos cobrindo a superfície
topográfica da ilha, depositados a grande altura acima do nível do mar. Estes
depósitos implicam a ocorrência de uma inundação marinha catastrófica apenas
compatível com o impacto de um tsunami gigantesco proveniente de oeste, isto é
da ilha do Fogo. Através da utilização de técnicas de ponta para a datação de
rochas estima-se que o tsunami ocorreu à cerca de 73.000 anos, uma idade
compatível com a datação pré-existente do colapso do flanco oriental da vizinha
ilha do Fogo. Este estudo estabelece, assim, a ligação causal entre os
depósitos encontrados em Santiago e o colapso do Fogo, indicando que o colapso
terá ocorrido de um modo catastrófico e produzido um tsunami gigante. Uma vez
que o nível do mar se encontrava então cerca de 50 metros mais baixo que o
actual, pode inferir-se que o tsunami inundou o litoral da ilha de Santiago,
nalguns locais até altitudes de 270 metros ou mais.
A ilha do Fogo eleva-se
actualmente 2.829 metros acima do nível do mar e entra em erupção a cada 20
anos em média, a mais recente das quais foi a erupção que decorreu entre
Novembro de 2014 e Fevereiro deste ano. O vulcão activo que se observa
actualmente foi edificado dentro da cicatriz deste colapso, sendo tão alto e
íngreme como o vulcão anterior ao colapso. A energia potencial para novo
colapso de grandes dimensões continua, portanto, a existir. Não sabemos contudo
se ou quando tal voltará a acontecer. O que sabemos é que é necessário que nos
mantenhamos vigilantes.
Este estudo foi
liderado por Ricardo Ramalho, actualmente na Universidade de Bristol e contou
com a participação dos investigadores portugueses José Madeira da Universidade
de Lisboa, Rui Quartau do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e Ana
Hipólito da Universidade dos Açores.
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