quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Uma esclarecedora e abalizada opinião do conhecido escritor. LAURO PORTUGAL, sobre o pretenso Acordo Ortográfico.


Uniformizar!!! Acordo Ortográfico!!!!

Lauro Portugal


Caríssimos,

O texto abaixo, pretensa arma contra o Acordo Ortográfico, não colhe. Não é assinado, não se lhe reconhecendo, por isso, “paternidade”, e ainda bem, caso contrário o autor seria confrontado com uma realidade à vista de todos: as diferenças que patenteia assentam tão-somente no campo da semântica (significação) dos termos, não tem nada a ver com a Ortografia!

Eu repudio plenamente este Acordo, que considero um monumental disparate, uma legislação abstrusa, causadora de inconvenientes sociais e pedagógicos, temporal, material, enérgica e psicologicamente desgastante e culturalmente amputadora.  Génio / gênio? Pretendendo-se a unificação da escrita, como se admitem duplas grafias? As diferenças entre o português de Portugal e o do  Brasil, no caso presente, têm muito de cariz fonético. E se há diferenças de cariz fonético, e se o objectivo é “escrever conforme se pronuncia”, é impossível a unificação. Mas estamos a falar da unificação ORTOGRÁFICA! Discordo, pois, da forma e do conteúdo do e-mail que desatinadamente invade as caixas de correio. Não é assim que se combate o AO.

Lauro Portugal


Uniformizar!!! Acordo Ortográfico!!!!
No outro dia, ouvi o Malaca Casteleiro dizer que o Acordo Ortográfico em que trabalhou incansavelmente ao longo de anos e anos teve por objectivo uniformizar a língua entre todos os países de expressão portuguesa.  Assim sendo, os brasileiros têm rabo ou somos nós que vamos passar a ter bunda? E as senhoras, as de cá passarão a usar calcinha ou são as de lá que usarão cuecas? De fato eles vestem fato ou nós, de facto, de futuro envergaremos terno? O governo de cá rouba-nos a grana ou é o de lá que lhes sonega o carcanhol? Passamos a ir à lanchonete ou são eles que vão ao café? Vamos beber um bagaço à tasca ou uma cachaça ao boteco? E o tipo que defende a baliza, é para eles guarda-redes ou, para nós, será goleiro? E como nos passaremos a mover? Nós de trem, ônibus, bonde, ou eles de comboio, autocarro, eléctrico? Esperamos pelo transporte na parada ou continuaremos a fazê-lo na paragem? Respeitamos a bicha na paragem ou antes a fila na parada? E aquele gajo porreiro, de pêra, que vai a sair da esquadra? Vamos ter que dizer que é um cara legal, de cavanhaque, a sair da delegacia? Se quisermos agrafar um relatório, recorreremos a um grampeador ou a um agrafador? E se o nosso fito é afiar um lápis, agarramos num apontador ou num apara-lápis? Fomos à privada e não usámos a descarga ou fomos à retrete e não puxámos o autoclismo?

E por aqui, pela merda, me fico. Em castelo. À Casteleiro. Em bom português, do único, porque merda é merda, aqui ou no Brasil.


 

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