quarta-feira, 9 de março de 2022

PUTIN - Um inimigo tenebroso, terrível , bruto - Artigo do Expresso | Henrique Monteiro

GUERRA NA UCRÂNIA OPINIÃO Face à brutalidade de Putin Não há palavras para quem, com os métodos do século XIX e o armamento do século XXI, decidiu chantagear não só um país vizinho, mas toda a humanidade. O sentimento de impotência, perante a brutalidade de Putin e a sua irresponsabilidade, esmaga-nos 08:01 9 Março, 2022 | Henrique Monteiro Os relatos sucedem-se: crianças choram, mulheres mostram-se incapazes de saber o que fazer; os homens oscilam entre a impotência e a coragem de afrontar um inimigo tenebroso, terrível, bruto. Quase dois milhões de pessoas abandonaram a sua vida para que a sua vida pudesse continuar; rapazes, dos 18 aos 60 anos, pegam em armas que nunca pensaram ter nas mãos, montam barricadas, escrevem frases nas paredes para mostrar que não têm aquilo que têm: medo! O presidente que se tornou num herói todos os dias se mostra, ainda na capital, a exortar a uma luta que sabe não ter como sair vencedor. O inimigo mais depressa, ou mais devagar, avança. Com mais ou menos dificuldades, vai andando; com mais ou menos mortos; com mais ou menos manifestações no próprio país a lembrá-lo do genocídio – pior, o fratricídio – que é avançar assim num país onde tanta gente tem família e onde tanta família tem gente. Não há modo de os vencer… Os aliados estão quietos! O louco – que longe de ser louco é simplesmente execrável, bandido e mau – ameaçou a guerra nuclear e ninguém arrisca para ver se o MAD (que também quer dizer louco, além de Mutual Assured Destruction, ou destruição mútua assegurada) ainda subsiste. O medo espalha-se, as pessoas simples unem-se. Basta ver os estádios de futebol, ou as manifestações sem ordem em frente das embaixadas da Rússia. Outros, como sempre, aproveitam para fazer política. Mas não têm quem lhes ligue… O problema de muitos é como ser totalitário e não apoiar aquele moço que preside à Rússia, que ainda há pouco cavalgava de tronco nu. No fundo, os adeptos dos totalitarismos, sejam muito ou pouco, sejam nazis a sério, como Putin, ou fascistas e comunistas a brincar, como Ventura, Louçã ou Jerónimo, têm um trauma qualquer (que não me proponho estudar) e que consiste no seguinte: como dizer mal do líder russo, sem demonstrar o meu ódio aos democratas, aos liberais, às pessoas simples. Penso que algo semelhante se passa com alguns militares. Não é que sejam pró-Putin, isso ninguém é, já nem o PCP; é apenas não conseguirem ser superiormente inteligentes e dizer o mesmo que o senhor do táxi, ou o senhor da mercearia. Que Putin é uma besta e não tem razão nenhuma, seja qual for o ponto de vista que se queira tomar. Em Portugal, os partidos que foram sempre os do arco da governação – PS, PSD e CDS, agora com a Iniciativa Liberal a juntar-se – não têm divergências sobre a matéria, nem as inventam. Podem querer parecer mais isto ou mais aquilo, mas no essencial afirmam o mesmo. Já o Chega e o BE andam numa corda bamba, e o PCP construiu um muro. Mas recuemos um pouco: há tempos tudo era diferente; fosse na admiração a Putin, fosse no amor à Venezuela e a Cuba, fosse na defesa de Trump e Bolsonaro. Ficavam os negócios, que para muitos no PS e no PSD podiam ser com qualquer um, nomeadamente a Angola dos corruptos, a Rússia dos oligarcas, a China dos mandarins, ou os árabes dos direitos da mulher (de que ontem foi dia santo). Não haveria problema… até haver. Discriminar em função dos ideais democráticos, era próprio de lunáticos. Pois era… pois foi! Olhe-se ao que resta. Cuidado, muito cuidado, para não indispor Putin. Ele poderá fazer o que quiser, desde arrasar Kiev até anexar ilegalmente partes de outro país. Vá lá, que mal tem isso? Foi assim em 2014, com a Crimeia, já havia sido antes com georgianos e tchetchenos, e há de ser depois, caso os russos não o apeiem eles próprios. Ou que seja outro qualquer a fazê-lo. A História está cheia destas injustiças (lembrem, só nos últimos 100 anos, os arménios, os curdos, os tutsis, os judeus, os atuais rohingya, os católicos da síria). Com todos o mundo pôde bem, por muitas ajudas que tenha dado, concertos de música que tenha feito, proclamações que tenha escrito. Acabo sempre por me convencer que a única grande lição da História é a de que a História não dá lições nenhumas. Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedInEmail this to someone Em Destaque

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