segunda-feira, 18 de abril de 2022
O papel dos drones na guerra na Ucrânia tem sido tão marcante que já existe uma música a falar de um desses aparelhos de origem turca, o Bayraktar TB2
O papel dos drones na guerra na Ucrânia tem sido tão marcante que já existe uma música a falar de um desses aparelhos de origem turca, o Bayraktar TB2. Há vídeos da orquestra militar ucraniana a cantar este ‘hino’ e de civis a cantarem e a dançarem ao som desta canção, num protesto contra as tropas russas. E, espante-se, até já há uma página da Wikipedia dedicada a esta música.
Não se sabe ao certo a origem desta canção, que insulta os militares russos e o seu Presidente Vladimir Putin, mas já se tornou num símbolo da resistência ucraniana. E se provas faltassem do sucesso deste drone na população ucraniana, aqui ficam mais alguns exemplos: um lemur nascido no mês passado no Jardim Zoológico de Kiev foi batizado de Bayraktar e o mesmo aconteceu a um cão da polícia ucraniana.
É inquestionável o impacto que os drones estão a ter neste e noutros conflitos da história moderna. No caso concreto da Ucrânia, o ministro da Defesa britânico assumiu, no mês passado, que os drones têm sido “extremamente importantes” para atrasar e bloquear a ofensiva russa, porque têm destruído a “artilharia e as linhas de abastecimento”. São aparelhos cada vez mais utilizados por todo o mundo, mas importa perceber de que forma é que estão a mudar os teatros de guerra.
No início, os drones eram utilizados essencialmente para reconhecimento do território. Foi com esse objetivo que foi construído o MQ-1 Predator, um veículo aéreo não tripulado utilizado pelos Estados Unidos em cenários de guerra como o Afeganistão e o Iraque, lê-se na BBC. Isso mudou, contudo, quando colocaram mísseis neste drone. O equipamento que se seguiu ao Predator, o Reaper, foi criado já com o objetivo de perseguir e matar, uma vez que contava com um maior alcance e conseguia transportar mais munições do que o seu antecessor. O Reaper terá sido a arma escolhida por Washington para matar o general iraniano Qasem Soleimani, em janeiro de 2020, em Bagdade, no Iraque.
Se no início os drones estavam nas mãos das nações mais poderosas, como os Estados Unidos e Israel, hoje em dia já não é assim. É que, ao contrário dos norte-americanos, que se têm mostrado relutantes em exportar estes equipamentos para outros países — ainda que, em março, tenham anunciado o envio de drones Switchblade para a Ucrânia —, nações como a China, atualmente o maior exportador de drones armados do mundo, a Turquia e o Irão não se têm coibido de fornecer estes aparelhos. De acordo com a BBC, mais de 100 países e grupos não-governamentais compraram veículos aéreos não tripulados, sendo que há ainda outros atores que têm acesso a drones armados.
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Air Force Works To Meet Increased Demand For Remotely Piloted Aircraft
▲ O drone Reaper terá sido a arma escolhida pelos Estados Unidos para matar o general iraniano Qasem Soleimani, em janeiro de 2020, em Bagdade, no Iraque
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Estes equipamentos, que num primeira fase tinham um papel de contra-terrorismo, agora são importantes em combate e, graças ao avanço da tecnologia, tornaram-se mais sofisticados e, acima de tudo, mais acessíveis a outros países.
Samuel Bendett, conselheiro do Programa de Estudos da Rússia do Center for Naval Analyses (CNA), uma organização de pesquisa e análise sem fins lucrativos, explica que na última década houve um “crescimento exponencial no desenvolvimento e utilização de drones militares” e que, nos dias que correm, são “inseparáveis” não só dos “exércitos, militares e forças de segurança e da defesa”, mas também de organizações e movimentos não governamentais que “procuram capacidades de inteligência, vigilância e reconhecimento, juntamente com a capacidade de lançar bombas e munições nos alvos”.
“No geral, os drones permitem a observação persistente do terreno ou do campo de batalha, fornecendo informações aos seus operadores, que podem usar esses dados para análise e ordenar ataques ou movimentos específicos com base no que foi visto e conduzir operações de guerra eletrónica”, referiu Bendett ao Observador. Esta guerra eletrónica, segundo a BBC, passa por “localizar as forças inimigas através de sinais que emitem e depois isolá-las, bloqueando as suas comunicações”.
Já o jornalista de ciência e tecnologia David Hambling, autor do livro “Weapons Grade, Swarm Troopers: How small drones will conquer the world” (“Como pequenos drones vão conquistar o mundo”, numa tradução livre), destaca o facto de os drones estarem “acessíveis” até aos países que “não poderiam pagar ou não saberiam manobrar” aeronaves dirigidas — e dá como exemplo o conflito entre a Arménia e o Azerbeijão, a propósito do enclave Nagorno-Karabakh. Neste caso, em que a Arménia é apoiada pela Rússia e o Azerbeijão pela Turquia, Ancara forneceu o drone Bayraktar TB2, que permitiu a destruição de “centenas de tanques arménios” por parte do Azerbeijão, “uma nação que não teria forma de financiar aviões de ataque de topo de gama”.
“No geral, os drones permitem a observação persistente do terreno ou do campo de batalha, fornecendo informações aos seus operadores, que podem usar esses dados para análise e ordenar ataques ou movimentos específicos com base no que foi visto e conduzir operações de guerra eletrónica”
Samuel Bendett, conselheiro do Programa de Estudos da Rússia do Center for Naval Analyses (CNA)
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Além do mais, com a disseminação da tecnologia dos drones, praticamente “qualquer pessoa consegue construir o seu próprio drone armado por centenas de dólares”, explica Paul Scharre, diretor de estudos do Center for a New American Security (CNAS) à BBC.
Com todas estas capacidades atribuídas aos drones, os conflitos estão a ganhar uma nova dimensão. Samuel Bendett sublinha o facto de o uso destes aparelhos em larga escala poder “complicar os planos dos atacantes”, não só porque as posições e movimentos das forças militares estão “constantemente” a ser expostas, mas também porque permitem ataques seja através dos próprios drones, seja através de aeronaves, artilharia ou mísseis que são lançados para as localizações identificadas por estes equipamentos. Algo que não acontecia com a mesma facilidade há alguns anos.
Apesar de estes veículos aéreos não tripulados não serem propriamente uma novidade, isso não faz com que seja mais fácil lidar com eles em combate. Isto porque, de acordo com Paul Scharre, são necessárias “defesas aéreas diferentes” para detetar os drones, que são mais pequenos do que as aeronaves clássicas.
Eles voam de forma mais lenta e mais rente ao solo e isso significa que muitos sistemas de defesa aérea não estão otimizados para os abaterem”, afirmou o especialista do CNAS, acrescentando que vários países já estão a desenvolver mecanismos de defesa contra estes equipamentos.
Scharre deixa ainda um alerta para o que pode vir a ser um problema “dramático”, no futuro, em cenários de guerra: o ataque em massa de drones. Ou seja, vários aparelhos utilizados ao mesmo tempo em “ataques simultâneos e multidirecionais”, de tal forma que os seres humanos não consigam contra-atacar.
Bayraktar TB2, Orion e DJI: qual tem sido o papel dos drones da Ucrânia?
A guerra na Ucrânia não tem sido exceção no que toca ao uso de drones. Estão a ser utilizados aparelhos tanto de vigilância — sejam eles modelos militares ou civis — para controlo e recolha de informação, como de combate, sendo que estes últimos são equipamentos militares que podem atingir alvos no terreno, explica Samuel Bendett ao Observador.
Para David Hambling, um lado “fascinante” do uso de drones no conflito ucraniano é o facto de eles permitirem “ver tudo” o que se passa no terreno, não só a destruição que provocam, mas também em termos “táticos”. “Por exemplo, há vários vídeos de tanques a serem destruídos por armas guiadas em que o tanque foi claramente localizado através de um drone. Esta visão aérea mostra que até os veículos escondidos podem ser localizados e perseguidos”, disse o jornalista ao Observador.
“A tecnologia dos drones amadureceu ao ponto de praticamente qualquer pessoa poder comprar um drone civil a um preço acessível e pilotá-lo durante um conflito, como vemos hoje na Ucrânia”, explica o conselheiro do CNAS ao Observador, acrescentando que “os voluntários ucranianos conseguiram pôr no ar muitos aparelhos, recolhendo dados sobre as forças russas”. O especialista norte-americano dá como exemplo o drone de origem chinesa DJI, um aparelho não militar que tem sido usado tanto pelas forças ucranianas como pelas russas e que pode ser facilmente integrado “organicamente em qualquer força”. No entanto, importa sublinhar que estes drones não foram concebidos para combate.
U.S. Government Blacklists Chinese Drone Maker DJI
▲ O DJI, um drone de origem chinesa, tem sido usado tanto pelas forças ucranianas, como pelas russas
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De acordo com David Hambling, o tipo de drones usados pelos dois lados do conflito vão desde o clássico drone com quatro rotores, que pode ser adquirido por qualquer pessoa — o governo ucraniano pediu aos cidadãos para “doarem os seus”, recorda o especialista — até aos mais sofisticados, como o drone turco Bayraktar e o russo Sirius, que é do tamanho de uma pequena aeronave.
“Os ucranianos estão a dar um uso muito eficaz a pequenos multirotores que conseguem transportar granadas antitanques de um quilo com efeito letal. A tripulação dos tanques nem chega a ver o drone que os atacou. Já os drones maiores são usados para enviar um míssil e disparar artilharia”, afirmou Hambling ao Observador, acrescentando que a Ucrânia está a “desenvolver vários drones kamikaze, que explodem quando embatem no alvo, mas muito provavelmente ainda não estão prontos”.
No caso da Rússia, os drones são essencialmente usados para direcionar os mísseis de longo alcance, entre eles o míssil guiado a laser Krasnopol, que consegue atingir um alvo que esteja a 20 quilómetros de distância. “Mais uma vez, aqueles que são atingidos não veem o drone e são localizados sem sequer se aperceberem do seu inimigo”, sublinha David Hambling.
Samuel Bendett também fala num uso “muito eficaz” por parte dos ucranianos não só dos Bayraktar TB2, mas também de um modelo mais pequeno deste drone turco para operações de inteligência, vigilância e reconhecimento. Outros modelos utilizados pela Ucrânia incluem o Leleka, o PD-1 e o DJI para vigilância e, “possivelmente”, o drone kamikaze de origem polaca Warmate. Do lado russo, o especialista do CNA refere os drones não militares DJI e os militares Eleron-3, Takhion, e Orlan-10 para vigilância, os drones kamikaze KUB tanto para ataques e como para vigilância e ainda os Forpost-R e Orion para combate. O Bayraktar TB2 e o Orion, de origem russa, são ambos modelos de média altitude e longa resistência e, por isso, equiparáveis em combate.
Uma curiosidade (e que demonstra a importância destes aparelhos): dois operadores russos de drones Orlan-10 receberam medalhas militares pelo seu trabalho ao localizarem soldados ucranianos que estavam a emboscar tanques russos — 13 ucranianos terão morrido neste ataque — e uma zona que foi destruída nos arredores de Kiev, onde os ucranianos armazenavam equipamento militar, lê-se na Forbes.
Mas mais importante do que o tipo de modelo e se é ou não mais avançado a nível tecnológico é a forma como o drone é operado no cenário de guerra. “Os ucranianos demonstraram que podem fazer pairar um drone DJI sobre as posições russas sem serem detetados antes de largar uma granada em cima de um tanque ou veículo russo. O DJI não é assim tão avançado, mas pode ter uma capacidade de combate que excede em muito o seu preço”, acrescenta Bendett ao Observador.
Ainda assim, apesar da experiência na Síria e na Crimeia em 2014, onde os militares russos usaram drones, e do investimento de nove mil milhões de dólares para produzir cerca de 500 drones em oito anos, para Vikram Mittal, professor de sistemas de engenharia em West Point, a Rússia não está em vantagem. Num artigo para a revista IEEE Spectrum, este especialista diz que a situação se explica com o embargo colocado ao país após a anexação da Crimeia, que não permitiu aos russos terem acesso a tecnologias de ponta que poderiam ter feito a diferença não só na produção destes aparelhos, como também nos sistemas antidrones, que se desenvolveram rapidamente na última década para acompanhar a também rápida evolução destes veículos aéreos não tripulados.
Já a Ucrânia, que no conflito na Crimeia não tinha quaisquer drones e atualmente tem cerca de 300 no terreno, não só investiu nesta tecnologia de ponta, como os países que a têm apoiado têm acesso a esses sistemas antidrones topo de gama.
Os drones russos, principalmente os originários do país, têm sido repetidamente abatidos pelos sistemas antidrones da NATO. Entretanto, os drones ucranianos, como os [Bayraktar] TB2 produzidos pela Turquia, tiveram vários sucessos contra os sistemas antidrones russos”, sublinha Vikram Mittal.
Bayraktar TB2 como arma para campanha nas redes sociais
Aliás, o sucesso deste drone turco vai muito além do seu papel no combate em si. Apesar de se ter tornado conhecido com o conflito na Ucrânia, o Bayraktar TB2 está operacional há vários anos e tem sido usado pelas forças turcas desde 2014 no norte do Iraque e na Síria, refere a CNN.
O seu nome deriva do seu criador, Selcuk Bayraktar, genro do Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan e responsável tecnológico da Baytar. Esta empresa fez contratos com pelo menos 19 países, entre eles a Polónia — o único membro da NATO e da União Europeia que encomendou estes aparelhos — , sendo que a maior parte destes acordos foram assinados nos últimos 18 meses.
Ukraine successfully tests Bayraktar TB2 UAV
▲ O primeiro Bayraktar TB2 fornecido pela Turquia à Ucrânia foi em 2019 e, até ao momento, Kiev já encomendou 36
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Antes do início do conflito, os drones já eram uma realidade na Ucrânia a vários níveis. Não só Ancara já fornecia mísseis a Kiev — o primeiro foi em 2019 e, até ao momento, o país liderado por Volodymyr Zelensky já encomendou 36 — como a Ucrânia era produtora de motores para o drone Akinci, o modelo mais avançado do drone Bayraktar. Os planos eram mesmo começar a co-produzir estes aparelhos com os turcos, mas a invasão da Rússia acabou por interromper esses planos.
A venda de drones turcos à Ucrânia era uma situação que incomodava Moscovo ainda antes da invasão. No ano passado, o porta-voz do Kremlin considerou que os veículos aéreos não tripulados de origem turca iriam ter um impacto “desestabilizador” na região. Atualmente, a Turquia, que tem tido um papel de mediador do conflito entre a Ucrânia e a Rússia, quase não faz referência ao sucesso do Bayraktar TB2, como se pode ver pelas declarações do seu criador à CNN.
Acho que é um símbolo da resistência, acho que lhes dá esperança”, afirmou Selcuk Bayraktar.
Mas, mais do que o seu papel no teatro militar, o Bayraktar TB2 tem sido parte integrante de uma “campanha” dos ucranianos nas redes sociais e que dão a ideia de que “os militares russos estão a perder” a guerra “e que são vulneráveis”, explicou Samuel Bendett à CNN.
“O Bayraktar não é a única solução do mercado e não é necessariamente a solução que vai salvar os militares ucranianos. Afinal, isto é uma guerra terrestre. Mas ter um drone como este que pode fazer vigilância, que pode fazer ataques… ter vídeos desses ataques espalhados pelas redes sociais dá um grande impulso moral e é também uma vitória tática”, acrescentou o especialista à CNN. “É também uma vitória das relações públicas ucranianas.”
Os riscos dos drones que atacam em modo automático
Apesar de o Bayraktar TB2 estar a concentrar todas as atenções no conflito Kiev-Moscovo, houve um outro drone de origem turca que causou alguma preocupação em maio do ano passado. Um relatório das Nações Unidas sobre o conflito na Líbia fazia referência ao drone Kargu 2, criado pela empresa STM, relatando que poderá ter “perseguido e atacado” soldados do general líbio Khakifa Haftar. O relatório refere ainda que estes “sistemas de armas autónomas letais foram programados para atacar alvos sem exigir uma ligação entre o operador e a munição”, ou seja, recorrendo a Inteligência Artificial. “De facto, uma verdadeira capacidade ‘dispara, apaga e encontra” (“fire, forget and find”, no original).”
Aquando da retirada das forças do general Haftar, o drone perseguiu os militares, que “foram alvo de um contínuo assédio por parte dos veículos aéreos não tripulados e dos sistemas de armas autónomas letais”. Não se sabe ao certo, porém, quantas pessoas morreram na sequência deste ataque — a ONU fala apenas em “perdas significativas” e destaca o peso da “avançada tecnologia militar turca” neste conflito.
Mais concretamente, o Kargu-2 é um drone kamikaze que aprende qual o alvo a atacar com base numa classificação automática de objetos e consegue trabalhar em simultâneo com outros 20 aparelhos iguais, explica a revista Bulletin of the Atomics Scientist.
Ao Observador, Samuel Bendett diz que “não há provas” do uso de drones Kargu na Ucrânia, enquanto David Hambling afirma que havia “poucas provas” de que estejam a ser usados drones kamikaze, não descartando por completo que as forças militares usem outros aparelhos deste tipo.
Enquanto os Estados-membros das Nações Unidas debatem se vale ou não a pena avançar com restrições ao uso de armamento automático, a opinião pública já está dividida, refere a Bulletin of the Atomics Scientist. Há quem diga que estes aparelhos podem ser essenciais para travar ataques rápidos, como uma ofensiva em massa de drones e poderão reduzir o risco para as populações, porque a probabilidade de erro é menor do que em sistemas comandados por seres humanos. Por outro lado, figuras como Stephen Hawking e Elon Musk ressalvam o facto de estes equipamentos não saberem distinguir civis de soldados, defendendo, por isso, que devem ser banidos.
Em 2017, o dono da Tesla considerou mesmo a inteligência artificial “um risco para a existência da civilização humana”. “A inteligência artificial é um dos raros casos em que acho que precisamos de ser proativos na regulação, em vez de sermos reativos, porque quando formos reativos na regulação da inteligência artificial, será demasiado tarde”, afirmou Elon Musk, que, nesse mesmo ano, foi um dos 116 signatários de um apelo feito às Nações Unidas para banir o desenvolvimento e o uso de robots letais.
Fixed-Wing Autonomous Tactical Attack UAV ALPAGU
▲ O drone Kargu-2 poderá ter “perseguido e atacado” soldados do general líbio Khakifa Haftar durante o conflito na Líbia, dizem as Nações Unidas
ANADOLU AGENCY VIA GETTY IMAGES
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O autor do artigo em questão, um investigador do National Consortium for the Study of Terrorism and Responses to Terrorism, da Universidade de Maryland (EUA), destaca alguns riscos quanto ao uso destas armas autónomas. Entre eles está a forma como se ensina a estes drones e outros aparelhos qual é o seu alvo. Eles aprendem a distinguir, por exemplo, autocarros escolares de tratores ou de tanques através de treinos de dados para saberem classificar vários objetos — mas se os dados não forem complexos o suficiente podem ocorrer erros trágicos.
“Os sistemas atuais baseados em aprendizagem mecânica não conseguem distinguir de forma eficaz um agricultor de um soldado. Os agricultores podem segurar uma espingarda para defender as suas terras, enquanto soldados podem usar um ancinho para derrubar várias armas”, lê-se no artigo.
E se no caso de equipamentos controlados por seres humanos qualquer ação errada pode ser corrigida, nos sistemas autónomos isso pode não acontecer. Outra coisa a ter em conta é o tipo de armamento que estes drones autónomas podem ter: “Disparar acidentalmente contra alguém é horrível, mas muito menos do que detonar acidentalmente uma ogiva nuclear.”
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