quarta-feira, 24 de agosto de 2022

"Chamavam-nos nerds": civis ucranianos combatem a invasão através de drones - OBSERVADOR

"Chamavam-nos nerds": civis ucranianos combatem a invasão através de drones Lançado há oito anos, o projeto Aerorozvidka foi criado por civis que queriam contribuir para luta contra a Rússia. Longe da linha da frente, usam o que têm de melhor: os seus conhecimentos técnicos.
Adriana Alves Texto 24 ago 2022, 00:44 4 Russia-Ukraine War ▲O projeto Aerorozvidka nasceu em 2014 com a colaboração de civis com o exército ucraniano Não é só de espingardas na mão que os ucranianos contribuem para o combate à invasão russa. Longe das trincheiras, um batalhão de civis, que junta engenheiros, homens de negócios e ex-militares, colabora com o exército da Ucrânia através do uso de drones. Em março, o ataque surpresa bem sucedido a um comboio russo de dezenas de quilómetros, que avançava em direção a Kiev a partir da Bielorrússia, foi uma das provas de que a estratégia podia dar frutos. Lançado há oito anos, o projeto Aerorozvidka (Reconhecimento Aéreo, em português), foi criado por civis que queriam contribuir para a luta contra a Rússia com o que tinham de melhor: os seus conhecimentos técnicos. “É assim que combatemos a ideia de que só os grandes vencem guerras“, diz ao El País Vadim, que prefere não divulgar o nome verdadeiro porque, como explica, “a equipa é monitorizada pelos serviços secretos russos”. “No início muitos soldados não percebiam o que estávamos a fazer”, recorda. “Chamavam-nos nerds com armas porque lutávamos com material técnico”, refere o homem, de 47 anos. Já foi um padre protestante, agora é engenheiro chefe do projeto Aerorozvidka e, com o seu trabalho durante a guerra, foi promovido a sargento. A colaboração dos civis com o exército ucraniano não é de agora e remonta a 2014, um ano marcado pelos protestos Euromaidan, que culminaram com a renúncia do Presidente pró-russo Viktor Yanukovych; a anexação da península da Crimeia pela Rússia; e a ascensão de vozes separatistas no Donbass. Tudo começou pelas mãos de Natan Chazin, um militar ucraniano-israelita, e de Volodímir Kochetkov-Sukach, um investidor bancário. Nos primeiros tempos trabalhavam com drones baratos, aos quais anexavam câmaras GoPro, para fazer missões de reconhecimento. Com o passar dos anos começaram a adquirir equipamento cada vez mais sofisticado e apropriado para uso militar e hoje contam já com a sua própria criação: o R18 octocopter. Segundo Vadim, o Aerorozvidka conta atualmente com 100 funcionários permanentes, mas centenas de colaboradores, incluindo os que financiam o projeto. Mas apesar da cooperação com o exército ser atualmente uma relação oficial, nem sempre foi assim. Chegaram a ser removidos das instalações militares, mas a guerra veio mudar isso. No dia 23 de fevereiro, a poucas horas da entradas das forças russas em território ucraniano, o grupo foi chamado e, no dia seguinte, reuniu-se com os militares para perceber como podia ser útil. Agora continuam o seu trabalho, não só com drones, mas também através de uma rede de câmaras na linha da frente que permite detetar qualquer movimento em tempo real. Segundo o El País, os dispositivos enviam os dados para as unidades ucranianas através do sistema de satélite Starlink, que o empresário Elon Musk disponibilizou em março à Ucrânia. Para Vadim, acabar esta guerra é a prioridade e será “uma vitória”. Quanto ao que vem depois? Criar um sistema de segurança para garantir que “ninguém nos ataca”.

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