LUSOFONIA – PORTUGALIDADE
O conceito lusofonia é muito usado hoje em dia, bem como o conceito países de expressão portuguesa. Vou recorrer a alguma informação histórica para perceber como os mesmos surgiram.
Quando os romanos conquistaram a Península Ibérica esta era formada por vários povos indígenas, como era normal ser assim em todo o mundo. A conquista e a colonização romana deu-se entre os séc. II a. C e séc. I d.C. Os povos mais importantes então existentes no que se refere à faixa ocidental da Península Ibérica eram os Galaico-Portucalenses, subdivididos em galegos (lucenses) que viviam no norte do rio Minho enquanto ao sul entre o Minho e o Douro viviam os povos de condado portucalense.
Há que referir aqui a povoação Portucale então existente na Foz do Rio Douro, talvez por isso, essa zona foi chamada de Galaico-Portucalense. Passado o Douro viviam os Lusitanos estendendo-se ainda pelo território da atual Espanha. A colonização romana esforçou-se por impor o latim e os seus costumes a esses povos, não só da Península Ibérica mas quase a toda a Europa Ocidental, incluindo as Ilhas Britânicas. Toda a legislação, educação, escolas, comunicações passaram a ser feitas em língua latina. Mas, sabemos nós os homens que as mentalidades das pessoas e dos povos não se podem transformar por artes mágicas, há sempre um período de assimilação para que possam mudar os seus hábitos e conseguir falar o mais perfeitamente a língua do colonizador, neste caso a língua latina. Nesse processo de aprendizagem os povos ao apreender uma língua oficial têm sempre a tendência, por falta do domínio da mesma, misturar esta com o seu próprio dialeto. Além das escolas e instituições romanas foi fundamental o contributo de relacionamento entre os romanos e os nativos.
Houve grande influência das legiões romanas na zona para além do Douro no norte, pois foi a zona onde essas legiões se encontravam estacionadas. Na Lusitânia não houve o estacionamento das legiões mas houve a colonização romana com dois centros importantes, Beja e Santarém. Claro que a fala dos legionários da zona Galaico-Portucalense e dos colonos italianos na Lusitânia devia ter as suas diferenças ao falar o latim.
Estes quatro fatores: as instituições romanas, sobretudo as escolas, as legiões na zona Galaico-Portucalense e os colonos italianos na zona da Lusitânia e os próprios dialetos locais terão influenciado o surto dum dialeto galaico-português medieval. Assim sendo a língua portuguesa, como todas as línguas românicas, não saíram do latim vulgar mas da mistura destes quatro elementos. Além disso não se pode esquecer a influência dos judeus e dos gregos. Há que realçar aqui que desta maneira o latim literário, linguagem de escrita e de administração contribuiu para manter a unidade entre os vários dialetos, impedindo-os durante séculos de fragmentarem-se em línguas diferentes. O mesmo modelo de não fragmentação em línguas diferentes, de formação de unidade, se deu também com os nossos atuais 7 povos da CPLP através da língua portuguesa. O mesmo sucedeu com as outras colonizações europeias, na atualidade.
Com o declínio do império romano e com as invasões ditas bárbaras pelos romanos, durante o período Visigótico, séc. VI a VII, os dialetos da Espanha, assim formados e unidos através do latim, sofreram nova transformação, através dos visigodos, com a absorção de algumas palavras germânicas e francesas e com a chegada dos árabes, séc. VIII, essa transformação linguística evoluiu ainda mais com centenas de palavras, sobretudo os substantivos, ligados ao vestuário, mobiliário, agricultura, instrumentos científicos e apetrechos diversos, na meteorologia, astronomia, medicina e farmácia e ainda palavras como lezírias, noras, açudes, azenhas, beringelas, tremoços, alfaces, azeitonas, alecrim, alfazema, anémonas, açoteias, ameixas, alfarrobas, alperces, romãs, seara, safra, tâmara, algodão, arroba, alqueire, azulejos, pátios, etc.
Pelos séc. XI e XII os exércitos cristãos cruzaram-se definitivamente o Mondego permitindo a fusão entre o galaico-português e o lusitano-moçárabe. Deste encontro de culturas nasceu o português. Não se sabe até que ponto o dialeto nortenho influenciou sobre o do sul ou vice-versa, mas, provavelmente havia mais nórdicos do que os sulistas, visto que muitos representantes da elite moçárabe tinham morrido ou fugido, apenas as pessoas do povo continuaram na sua lide diária, aqueles que nada tinham a perder. Com a mudança da capital para o sul em Lisboa, nos meados do séc. XIII, ainda mais foi reforçada a fusão norte-sul.
Depois de alguma informação sobre a formação da língua portuguesa e sua cultura vou recuar ao séc. XI. Pois, pelos finais do séc. XI, antecedendo o movimento geral das cruzadas do Oriente, chegaram a Península Ibérica vários contingentes de cavaleiros franceses, um deles era o Raimundo como noivo de Urraca, única filha legítima e herdeira do imperador Afonso VI, rei de Leão, Castela, Galiza e Portugal (região entre Douro e Minho), seu casamento realizou-se em 1091 e foi-lhe dado o governo da área Galiza em 1093 e depois o governo de Portugal (Minho e Douro) e mais o de Coimbra, em 1094. Mas em 1096 o Imperador Afonso VI decidiu entregar Portugal (Minho e Douro) e Coimbra ao seu novo genro, Henrique de Borgonha, primo de Raimundo, como noivo da sua filha bastarda Tarásia (Teresa) e foi-lhe dado todo o território ao sul do Minho.
Seu filho o futuro D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, tinha portanto ascendência borgonhesa da parte do seu pai Henrique de Borgonha, região que fica em França, e que lutou em ser Rei formando um reino independente, Portugal, o que só conseguiu em 1179 através do Papa Alexandre III que o reconheceu como rei e o seu estado como reino. A reconquista do território português até ao Algarve completou-se com a conquista de Silves e Faro em 1249, no reinado de D. Afonso III, e com ela a língua portuguesa expandiu-se no meio do povo e passou a ser usada como idioma de muitos documentos públicos e privados e nos finais do mesmo século foi oficialmente adotada como língua escrita do país, substituindo o latim e rapidamente tomou lugar deste último até em documentos eclesiásticos. Podemos assim verificar que a fusão iniciada no tempo de D. Afonso III completou-se no reinado de D. Dinis formando uma entidade homogénea com a nacionalidade portuguesa, desde Minho ao Algarve, enquanto ao mesmo tempo se delimitaram também a costa oriental de Portugal, um território com um comprimento de 848 Km, largura 250 Km e uma área aproximadamente de 89 106 Km2, quase a área atual e ao mesmo tempo foi substituído o latim pelo português como língua oficial em 1288 para diferenciarem-se, como uma nacionalidade própria baseando-se na língua e não na raça, do xadrez político ibérico e ocidental. E para completar este processo de nacionalidade foi fundada em 1290 a 1ª Universidade Portuguesa em Lisboa, como base para através do ensino do direito formar os funcionários administrativos. Esta língua inicialmente galaico-português parece que abrangia, além do reino de Portugal, os reinos de Leão, Galiza, Astúrias e Aragão, reinos em que a mesma se transformou em castelhano pela sua inclusão no reino de Castela.
Verificamos assim que a este território deram o nome de Portugal do condado Portucalense, das terras situadas entre o Minho e Douro, uma pequena área comparada com a área da Lusitânia, do sul do Douro ate ao Algarve. Por lógica das dimensões das áreas poderiam ter chamado Lusitânia, uma área muito maior do que a área entre Douro e Minho, em vez de Portugal, mas vincou-se o conceito Portugal do condado Portucalense, instituição donde partiu a conquista do sul lusitano. Com a expansão ultramarina portuguesa e depois das independências dos outros sete países, assim formados, após 25.4.1974, passaram a adotar os dois termos conforme a ocasião, países de expressão portuguesa ou países lusófonos ou ainda comunidade dos países lusófonos.
Em conclusão o termo Portugal vem da área situada entre o Douro e Minho, Condado Portucalense, e o termo lusofonia da área situada a sul do Rio Douro até ao Algarve. E Portugalidade acho eu é tudo isso no seu conjunto, com boas e más ações.
Principal fonte informativa, in História de Portugal, Oliveira Marques; I Vol.; Lisboa, 8ª edição 1978.
O conceito lusofonia é muito usado hoje em dia, bem como o conceito países de expressão portuguesa. Vou recorrer a alguma informação histórica para perceber como os mesmos surgiram.
Quando os romanos conquistaram a Península Ibérica esta era formada por vários povos indígenas, como era normal ser assim em todo o mundo. A conquista e a colonização romana deu-se entre os séc. II a. C e séc. I d.C. Os povos mais importantes então existentes no que se refere à faixa ocidental da Península Ibérica eram os Galaico-Portucalenses, subdivididos em galegos (lucenses) que viviam no norte do rio Minho enquanto ao sul entre o Minho e o Douro viviam os povos de condado portucalense.
Houve grande influência das legiões romanas na zona para além do Douro no norte, pois foi a zona onde essas legiões se encontravam estacionadas. Na Lusitânia não houve o estacionamento das legiões mas houve a colonização romana com dois centros importantes, Beja e Santarém. Claro que a fala dos legionários da zona Galaico-Portucalense e dos colonos italianos na Lusitânia devia ter as suas diferenças ao falar o latim.
Estes quatro fatores: as instituições romanas, sobretudo as escolas, as legiões na zona Galaico-Portucalense e os colonos italianos na zona da Lusitânia e os próprios dialetos locais terão influenciado o surto dum dialeto galaico-português medieval. Assim sendo a língua portuguesa, como todas as línguas românicas, não saíram do latim vulgar mas da mistura destes quatro elementos. Além disso não se pode esquecer a influência dos judeus e dos gregos. Há que realçar aqui que desta maneira o latim literário, linguagem de escrita e de administração contribuiu para manter a unidade entre os vários dialetos, impedindo-os durante séculos de fragmentarem-se em línguas diferentes. O mesmo modelo de não fragmentação em línguas diferentes, de formação de unidade, se deu também com os nossos atuais 7 povos da CPLP através da língua portuguesa. O mesmo sucedeu com as outras colonizações europeias, na atualidade.
Com o declínio do império romano e com as invasões ditas bárbaras pelos romanos, durante o período Visigótico, séc. VI a VII, os dialetos da Espanha, assim formados e unidos através do latim, sofreram nova transformação, através dos visigodos, com a absorção de algumas palavras germânicas e francesas e com a chegada dos árabes, séc. VIII, essa transformação linguística evoluiu ainda mais com centenas de palavras, sobretudo os substantivos, ligados ao vestuário, mobiliário, agricultura, instrumentos científicos e apetrechos diversos, na meteorologia, astronomia, medicina e farmácia e ainda palavras como lezírias, noras, açudes, azenhas, beringelas, tremoços, alfaces, azeitonas, alecrim, alfazema, anémonas, açoteias, ameixas, alfarrobas, alperces, romãs, seara, safra, tâmara, algodão, arroba, alqueire, azulejos, pátios, etc.
Pelos séc. XI e XII os exércitos cristãos cruzaram-se definitivamente o Mondego permitindo a fusão entre o galaico-português e o lusitano-moçárabe. Deste encontro de culturas nasceu o português. Não se sabe até que ponto o dialeto nortenho influenciou sobre o do sul ou vice-versa, mas, provavelmente havia mais nórdicos do que os sulistas, visto que muitos representantes da elite moçárabe tinham morrido ou fugido, apenas as pessoas do povo continuaram na sua lide diária, aqueles que nada tinham a perder. Com a mudança da capital para o sul em Lisboa, nos meados do séc. XIII, ainda mais foi reforçada a fusão norte-sul.
Depois de alguma informação sobre a formação da língua portuguesa e sua cultura vou recuar ao séc. XI. Pois, pelos finais do séc. XI, antecedendo o movimento geral das cruzadas do Oriente, chegaram a Península Ibérica vários contingentes de cavaleiros franceses, um deles era o Raimundo como noivo de Urraca, única filha legítima e herdeira do imperador Afonso VI, rei de Leão, Castela, Galiza e Portugal (região entre Douro e Minho), seu casamento realizou-se em 1091 e foi-lhe dado o governo da área Galiza em 1093 e depois o governo de Portugal (Minho e Douro) e mais o de Coimbra, em 1094. Mas em 1096 o Imperador Afonso VI decidiu entregar Portugal (Minho e Douro) e Coimbra ao seu novo genro, Henrique de Borgonha, primo de Raimundo, como noivo da sua filha bastarda Tarásia (Teresa) e foi-lhe dado todo o território ao sul do Minho.
Verificamos assim que a este território deram o nome de Portugal do condado Portucalense, das terras situadas entre o Minho e Douro, uma pequena área comparada com a área da Lusitânia, do sul do Douro ate ao Algarve. Por lógica das dimensões das áreas poderiam ter chamado Lusitânia, uma área muito maior do que a área entre Douro e Minho, em vez de Portugal, mas vincou-se o conceito Portugal do condado Portucalense, instituição donde partiu a conquista do sul lusitano. Com a expansão ultramarina portuguesa e depois das independências dos outros sete países, assim formados, após 25.4.1974, passaram a adotar os dois termos conforme a ocasião, países de expressão portuguesa ou países lusófonos ou ainda comunidade dos países lusófonos.
Em conclusão o termo Portugal vem da área situada entre o Douro e Minho, Condado Portucalense, e o termo lusofonia da área situada a sul do Rio Douro até ao Algarve. E Portugalidade acho eu é tudo isso no seu conjunto, com boas e más ações.
Uma lição a reter.
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