De RERUM NATURA
QUINTA-FEIRA, 28 DE MARÇO DE 2013
Incompetência, descoordenação e irresponsabilidade
Vale a
pena ler o documento que Vasco Teixeira, director da Porto Editora, entregou na
Assembleia da República e disponibilizado aqui. Dificilmente se pode afirmar que a
Porto Editora tem objecções de fundo à nova ortografia; na verdade, é até
acusada por algumas pessoas menos informadas de pertencer ao grupo dos
conspiradores que querem ganhar dinheiro com novos dicionários. Parece-me,
pois, que mesmo os defensores do Acordo Ortográfico (AO), terão de reconhecer
todos os pontos sublinhados por Vasco Teixeira, e concluir que, no mínimo, o AO
precisaria de profunda revisão. E isto por duas razões muito simples.
Primeiro,
o texto do acordo é uma manta de retalhos amadora, mal feita, pior pensada,
incoerente, tecnicamente vergonhosa e que desunifica as ortografias em vez de
as unir. Porquê? Porque se guia pelo critério da fonética, o que significa que
a maior parte das palavras que antes se escrevia da mesma maneira em Portugal e
no Brasil, como "aspecto", agora se escrevem de maneira diferente
(com c no Brasil, sem c em Portugal). Além disso, ao mexer no
que não precisava de mexida porque já era igual (os hífenes), e porque o texto
do acordo é infantil, introduz as arbitrariedades interpretativas ilustradas
por Vasco Teixeira: o resultado óbvio do acordo é que cada pessoa, cada livro,
cada país, acaba por usar ou não hífen consoante lhe der na telha.
Segundo,
o próprio AO já é ilegal do seu próprio ponto de vista. Pois o AO era entendido
meramente como um documento técnico de trabalho (péssimo começo, mas paciência)
para se fazer um vocabulário universal da língua portuguesa. Ora, a primeira
coisa que aconteceu assim que o Brasil adoptou o AO foi fazer o seu próprio
vocabulário, à sua maneira, sendo que depois Portugal desatou a fazer outro e
agora temos por isso dois vocabulários: e não temos, pois, como os castelhanos,
um só vocabulário da língua portuguesa.
O AO é
ilegal. Está tecnicamente errado. É educativamente um desastre. É culturalmente
uma perversão. É economicamente desvantajoso para Portugal, e politicamente um
suicídio. Deve ser imediatamente abandonado. Faça a sua parte: assine a Iniciativa Legislativa de
Cidadãos, defenda a sua língua.
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