segunda-feira, 13 de julho de 2015

Expresso Curto -- Obs. do Blog: Uma leitura indispensável para se perceber o que está por trás do acordo do Eurogrupo sobre a Grécia.

Expresso
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Pedro Candeias
POR PEDRO CANDEIAS
Coordenador
 
13 de Julho de 2015
 
Grécia: Tudo o que se diz pode e é usado contra nós
 
A crise da Grécia é um rodízio interminável de reuniões a 19 e de encontros bilaterais e cambalhotas de última hora. E escrever sobre isto é como viver por dentro uma detenção policial à americana: tudo o que for dito pode e será usado contra quem o disse. Mas cá vai:
Ainda não eram oito horas da manhã quando os primeiros tweets com boas notícias saltaram cá para fora por Charles Michel, PM da Bégica, e  Joseph Muscat, PM de Malta. Depois, veio a conferência de imprensa de Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo: "Passadas 17 horas, chegámos a um acordo. E este acordo contém medidas duras." E o Euro disparou. Não era bom que todas as histórias acabassem assim? Esta ainda não acabou.
Porque a Grécia terá de começar a aplicar o que lhe foi pedido nos próximos dois dias e supõe-se que tudo o que lhe foi pedido é aquilo que os gregos votaram contra no referendo - será interessante seguir como Tsipras se irá impor no seu Parlamento, quando disser, por exemplo, que €50 mil milhões de bens estatais da Grécia terão de entrar num fundo independente sediado na Grécia como garantia de que a Grécia se irá portar bem. E que 50 mil milhões são estes?

É preciso puxar o filme atrás - 17 horas de filme. Em troca de um terceiro resgate, o Eurogrupo apresentou a Alexis Tsipras umdocumento de quatro páginas nas quais exigia mais austeridade, mais privatizações, novas alterações ao IVA e duas ou três alíneas dentro de parêntesis rectos que enquadravam a humilhação suprema às mãos dos alemães: que a Grécia entregasse o controlo das Finanças ao FMI; que a Grécia transferisse bens estatais no valor de €50 mil milhões ao Instituto para o Crescimento do Luxemburgo, que tem (hélas!) o dedo do Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble; e que o Grexit era uma possibilidade. O Ricardo Costa fez o resumo.

Grexit foi a primeira proposta a cair [veja, aqui, quem estava a favor e contra; e perceba que Alemanha e França estão distantes] e durante algumas horas escreveu-se que Tsipras alinhava com quase tudo, menos com a continuidade do FMI e com a garantia dos €50 mil milhões no estrangeiro. O PM grego disse ou mandou dizer que, no máximo, chegaria aos €17 mil milhões e que esse dinheiro nunca deveria sair da Grécia. Como é óbvio, cedeu. E o que ele disse será usado contra ele. 

E nas redes sociais, a hashtag #ThisIsACoup tornou-se viral, alimentada por gente como Paul Krugman, que escreveu o seguinte no NYT : "Quem irá voltar a confiar nas boas intenções da Alemanha depois disto?" Tudo o que Krugman disser pode e será usado contra ele. 

OUTRAS NOTÍCIAS
Não houve fumo branco em Viena -  e fumo é coisa pouco recomendável quando falamos de acordos nucleares. No neoclássico Palais Coburg, os seis-que-mandam-nisto-tudo (EUA, Reino Unido, China, França, Rússia e Alemanha) estiveram reunidos com o Irão e adiaram a decisão para hoje. Ou para amanhã. Ou para depois de amanhã. São 100 páginas que têm de ser discutidas ponto-a-ponto: o sexteto aligeirará as históricas sanções aos iranianos se estes aliviarem a carga no enriquecimento de urânio, reduzirem o número de centrifugadoras e permitirem inspeções periódicas a essas instalações. 

Um lugar pouco inspecionado terá sido a cela de Joaquin Guzmán, conhecido como El Chapo, um traficante de droga mexicano que fugiu desta prisão, que é de segurança máxima e onde a rede de telemóvel está confinada a um raio de 10 quilómetros. Modernices a mais para o perigossímo El Chapo, que escapou por um buraco que o levou a um túnel com mais de um quilómetro por debaixo de Altiplano. Completou a fuga  de mota - e está a monte.

Novak Djokovic foi uma montanha grande de mais para Roger Federer, em Wimbledon. O sérvio bateu o suíço na final do torneio em quatro sets e deixou muita gente nas bancadas com ar de caso, porque a pinta elegante de Federer sempre caiu bem em Inglaterra. É que Wimbledon é um sítio onde se vê bom ténis e se é visto a ver bom ténis - mas apenas se se estiver bem vestido. Bradley Cooper, Hugh Grant, Alex Ferguson, Thierry Henry, Kate Winslet, etc, sentaram-se no sítio ondeLewis Hamilton não esteve - quem não trouxer casaco, gravata e sapatos não entra na Centre Court Royal Box

No Bernabéu, Iker Casillas apareceu de camisa azul, mangas arregaçadas e papel na mão para ler as últimas palavras como guarda-redes do Real Madrid: disse que seria sempre madridista e que queria ser recordado como boa pessoa e não como um bom ou mau jogador. E chorou sem que ninguém do Real estivesse ali por perto. Segundos depois, o clube deixou de segui-lo no Twitter.

FRASES
"A Europa nunca foi um projeto económico, foi um projeto político. Há países que não confiam no Governo de Tsipras e que estão na disposição de fazer tudo para que não haja acordo com a Grécia. Estes países, em vez de liderarem o processo pedagógico, estão a seguir as opiniões públicas e os respetivos eleitorados. 90% dos alemães estão contra a Grécia no Euro." Marcelo Rebelo de Sousa, à boca das urnas, no comentário semanal na TVi.

"Os políticos podem fazer magia. Espero que hoje [domingo] haja um momento mágico." Rimantas 'Houdini' Sadzius, Ministro das Finanças da Lituânia sobre a crise grega.

"O FC Porto é uma equipa de Segunda B para uma pessoa da categoria do Iker." Mari 'eu-sei-distinguir-a-primeira-da-segunda' Carmen, mãe de Iker Casillas sobre a mudança do filho para a Invicta, no El Mundo

"Se a política for dominada pela especulação financeira, ou se a economia for governada apenas por um paradigma tecnocrático e utilitário preocupado apenas com o aumento da produção, não conseguiremos compreender, quanto mais resolver, os grandes problemas da humanidade" Papa Francisco - nada a acrescentar. 

O QUE ANDO A LER
O lugar onde nascemos e crescemos marca-nos como uma cicatriz que podemos tapar e esconder mas que sabemos que está lá sempre para nos dizer quem somos. E o que somos. Herta Müller é uma filha alemã da Roménia comunista de Ceasescu e o que ela escreve tem a impressão digital do sofrimento dela e dos familiares dela naquele regime. No "Hoje Preferia Não Me Ter Encontrado" há umanarradora que se define numa palava que também é um verbo: intimada. Ela é uma mulher que vive intimada e é no caminho do elétrico para ser outra vez intimada pelo Major Albu que nos conta a vida: o casamento falhado porque o "amor marca passo se não sai do sítio" e o deles "já não saía há dois anos e meio"; o sogro "comunista perfumado" que deportou os avôs dela; o segundo marido, Paul, que é alcoólico; a amiga, Lilli, cuja carne é rasgada por cães quando quer pular para a Hungria por amor. Cada frase deste livro tem uma verdade: "Há coisas que só se tornam graves quando falamos delas". 

Para falar de outras coisas estará cá amanhã o Pedro Santos Guerreiro que ouvi no "Fala Com Ela" da Radar a confessar o que o faz subir às mesas e dançar: as cachas. Que são os furos e as notícias, que pela fresca lhe caem no e-mail, no Expresso Curto.
 

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