segunda-feira, 18 de março de 2019

Será o Facebook uma cebola? PÚBLICO - TECNOLOGIA


Será o Facebook uma cebola?

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Na semana passada, saíram do Facebook dois executivos de topo. Um deles, Chris Cox, que estava na rede social quase desde o início e era provavelmente o “número três” da empresa, afirmou:
“(...) a história dos media sociais ainda não está escrita, e os seus efeitos não são neutros. Está ligada à riqueza e complexidade da vida social. Como os seus construtores, devemos esforçar-nos para entender o seu impacto – o bom e o mau – e assumir a tarefa diária de a dirigir para o positivo e para o bem.”
Presumir que há um lado bom e um contrapeso mau já é dar o benefício da dúvida. Em muitos casos, quando se retira a camada mais superficial das supostas vantagens do Facebook, quase sempre surge um efeito negativo.
É um facto que o Facebook (bem como o resto das redes sociais) permite manter contacto com amigos e familiares, e acompanhar a vida de pessoas com quem nos relacionamos. Mas o que superficialmente parece algo positivo transforma-se numa realidade bem diferente à medida que se avolumam os estudos sobre o impacto negativo desta partilha no bem-estar e na saúde mental. 
Um estudo feito em Portugal foi apenas mais um a indicar que quem passa mais tempo nas redes sociais tende a sentir-se mais só, mesmo quando essa prática não diminuiu as interacções em pessoa. Os autores do estudo lançam a hipótese de ser a própria natureza da comunicação online que contribui para o sentimento de solidão. 
O Facebook também alargou a possibilidade de auto-publicação e de expressão online (algo que a blogosfera já tinha, em parte, conseguido) e facilitou o acesso a informação. Mas a diminuição dos tempos de atenção, a disseminação de desinformação, a procura de 15 likes de fama, a proliferação de discurso de ódio e o impacto no funcionamento das democracias são efeitos que fazem repensar o eventual impacto positivo. Na semana passada, o ataque terrorista na Nova Zelândia foi transmitido no Facebook replicado milhões de vezes. Está a ser descrito como o primeiro atentado planeado para ter o máximo de atenção online.
A rede social também permitiu a muitos negócios encontrarem clientes, incluindo a restaurantes e outros pequenos estabelecimentos que teriam de outra forma uma presença online muito mais limitada. Também aqui o problema da privacidade e segurança dos dados vem temperar optimismos. Nos EUA, soube-se agora, a empresa está sob investigação criminal por alegadamente ter vendido dados de utilizadores a outras empresas, sem autorização.
É verdade, como lembrou há dias Tim Berners-Lee, o inventor da Web, que o estado do mundo online não é culpa de um só governo ou de uma só rede social. 
Mas, no Facebook, por baixo de cada camada de funcionalidades e de usos, tantas vezes aparentemente benignos, parece sempre surgir uma outra camada, mais problemática. E os efeitos de descascar uma cebola são sobejamente conhecidos.

Digno de nota

- "Até quando iremos poder conduzir os nossos carros?" é uma pergunta interessante. Como é interessante pensar nas mudanças para consumidores e empresas que os carros sem condutor trarão. 
- O Spotify, que é uma empresa sueca, queixou-se à Comissão Europeia de concorrência desleal por parte da Apple. O regulador europeu tem tido mão dura com as multinacionais americanas. 
- O Parlamento Europeu aprovou algumas medidas para prevenir riscos com redes 5G. Mas, como explica o New York Times, a ofensiva diplomática dos EUA para retirar a Huawei da corrida parece estar a falhar
4.0 é uma newsletter semanal sobre inovação, tecnologia e o futuro. Críticas e sugestões podem ser enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.

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