terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Enfrentar Putin, agora ou depois - Internacional , Opinião - Expresso - Henrique Raposo

INTERNACIONAL, OPINIÃO Enfrentar Putin, agora ou depois O problema é que os europeus ocidentais foram convencidos por décadas de pós-modernismo de que essa abordagem realista era algo do passado. Não é. É uma necessidade. A paz não se defende sozinha e, muitas vezes, o pacifismo é a maior arma dos agressores. Se não entender isto, o público europeu mostrará de novo que só está preocupado com o seu espelho onde projeta a alegada superioridade moral do seu “pacifismo” Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedInEmail this to someone 09:57 22 Fevereiro, 2022 | Henrique Raposo Nós, ocidentais, vamos ter de enfrentar Putin, agora ou depois. Nós, UE e NATO, vamos ter de enfrentar a Rússia mais cedo ou mais tarde no campo militar, porque essa é a única linguagem que o ditador russo entende. Poder, agressão, ascensão, decadência, exércitos, guerra, dissuasão. Não estou a dizer que a guerra é inevitável, mas estou a dizer que há mais de meio século que a guerra clássica entre potências não estava tão perto. Talvez desde 45. Não estou a dizer que a guerra já é inevitável, mas estou a dizer que nós, europeus e americanos, temos de mostrar vontade e capacidade para projetar força na defesa das democracias da Europa oriental que se sentem ameaçadas. Essa projeção de força terá de ser clássica (reforçar contingentes militares) mas também terá de ser económica: como é que ainda há empresas russas no coração da City? Como é que há tantos oligarcas russos a circular nas praças financeiras e a comprar clubes de futebol? Como é que a UEFA é patrocinada por um dos símbolos da agressão russa? A Europa tem o poder para deixar a Rússia economicamente de rastos. Se nós precisamos de gás, eles só têm gás. Há uma diferença. Putin só compreende a linguagem do poder puro e duro. E o problema é que os europeus ocidentais foram convencidos por décadas de pós-modernismo de que essa abordagem realista era algo do passado. Não é. É uma necessidade. A paz não se defende sozinha e, muitas vezes, o pacifismo é a maior arma dos agressores. Se não entender isto, o público europeu mostrará de novo que só está preocupado com o seu espelho onde projeta a alegada superioridade moral do seu “pacifismo”. Mostra também que não está preocupado com a realidade ou com os ucranianos, ou com os povos bálticos. Garton Ash, colunista do The Guardian, diz hoje que nunca sofreu tantos ataques e abusos online como daquela vez (2015) em que defendeu que o Ocidente devia dar sistemas de armas novas à Ucrânia. Disse isto e foi queimado no twitter e no Facebook do pacifismo europeu. E agora, quem é que é o pacifista? Se tivéssemos fornecido essas armas à Ucrânia, Kiev teria agora um poder dissuasor e pacificador, porque o preço de uma invasão seria demasiado alto até para Putin. Se nós queremos defender a nossa abordagem tolerante e multilateral, então há um momento em que temos de deixar de ser tolerantes com a intolerância. E uma nova invasão da Ucrânia por parte da Rússia é esse momento. Se não se redefinir enquanto potência com capacidade de resposta económica e militar, a Europa será para sempre alvo do desrespeito internacional, porque ficará à vista que não temos a coragem para defender os nossos valores nas horas mais quentes. E o que está aqui em causa é a defesa da democracia, de uma ordem multilateral e da previsibilidade contra a ditadura, a lógica das esferas de influência e dos Estados vassalos e da imprevisibilidade. Temos ou não coragem para defender aquilo que somos?

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