segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
A morte utilitária
A morte utilitária: A minha Mãe morreu há seis meses. Nos dois antecedentes, esteve internada duas vezes num hospital do SNS. Da primeira, saiu de lá com uma bactéria no nariz. Da segunda, onde entrara com uma pneumonia por aspiração (as coisas que aprendemos na vida), teve alta mal curada e praticamente já não abandonou a cama da residencial. Tinha 94 anos, mas podia ter 14, 34, 64, ou 84. Hoje as certidões de óbito não nos dizem do que morrem as pessoas. É uma coisa anódina, apenas com as circunstâncias de tempo e de lugar. Horas antes, vira-a, mais aflita que o costume - problemas respiratórios - e a expressar-se sobretudo pelo olhar e pelas mãos. O que posso afirmar é que retenho dessa tarde o mesmo brilho que conheci em sessenta anos nos olhos da minha Mãe. Uma "pequenina luz bruxuleante" de vida, e não de morte, que talvez ela intuísse ser a última, e eu não. Agarrou-se sempre mais à vida do que alguma vez me agarrarei. Tratava-se. Ia às consultas. Fazia exames. Tomava o que lhe prescreviam. A morte sobreveio calma e naturalmente. Mas não é da minha Mãe que quero falar. Pela terceira vez, julgo, a Assembleia da República aprovou a sua versão da lei da eutanásia, ou da morte medicamente assistida
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