segunda-feira, 4 de abril de 2022

GUERRA NA UCRÂNIA Comunidade russa em Portugal assiste em sofrimento à guerra entre irmãos. SELECCIONEM O LINK ABAIXO, CLIQUEM COM BOTÃO DTº DO RATO, E DEPOIS CLIQUEM EM "IR PARA" E TERÃO ACESSO AO ARTIGO

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GUERRA NA UCRÂNIA Comunidade russa em Portugal assiste em sofrimento à guerra entre irmãos. "A Rússia vai levar este selo de agressora nas próximas décadas" Alexander Piskunov Alexander Piskunov, Dária Shilyaeva e Irina Akhmetova, três russos em Portugal, contam ao Expresso como é sentir o país onde nasceram nas bocas do mundo por ser o "agressor" no conflito na Ucrânia. O padre, a estudante de Ciência Política e Relações Internacionais e a advogada revelam os receios sobre o futuro do seu país, a agonia por verem um "povo irmão" a sofrer e também o que pensam sobre o fluxo permanente de notícias a que não conseguem ficar indiferentes 4 ABRIL 2022 16:39 Catarina Maldonado Vasconcelos São Pantaleão, padroeiro dos médicos e invocado contra maleitas como o cancro ou a tuberculose, é uma das figuras que rodeiam Alexander Piskunov. Pantaleão está na presença de outras santidades veneradas pelos ucranianos, russos e também portugueses, lembrando que em tempos não havia divisões entre a igreja ocidental e oriental. É nesta figura de São Pantaleão que o discurso de Alexander Piskunov, cheio de metáforas, tropeça para ganhar fôlego. "Em Miragaia, há uma Rua Arménia. No século XV, chegaram aqui os mercadores da Arménia, com um santo muito famoso e venerado no Oriente, na Igreja Ortodoxa. A epidemia da Peste Negra não chegou a Miragaia, o que foi considerado um milagre. Depois do milagre, este santo foi elevado a patrono do Porto." Alexander Piskunov, russo, 41 anos, chegado a Portugal há nove, não conta o conto para acrescentar um ponto, mas para chegar a um. Como pároco da Igreja Ortodoxa Russa do Porto, é o que faz muitas vezes: por meio de histórias, como talha dourada que recobre a realidade, começa a esculpir pensamentos. Explica que, evitar divisões dentro da igreja e das associações dos imigrantes de leste, é utilizada a mesma liturgia, e a mesma língua - eslava eclesiástica - do século IX, que surgiu como tradução do grego bizantino. No último mês, no entanto, o peso das palavras foi exacerbado, e Alexander tem plena ciência disso. Para quem usa a linguagem a serviço da paz, todos os exemplos são de glorificação do que é diverso e uno. "Ninguém acreditava que isto poderia acontecer. A guerra é sempre uma coisa muito má, as pessoas morrem, há derramamento de sangue. Neste caso, o que é mais grave é que é um conflito entre dois povos que são irmãos." "PARA A IGREJA RUSSA, KIEV É UMA CIDADE SANTA. É HORRÍVEL O QUE ESTÁ A ACONTECER" A guerra tornou-se um assunto do qual é impossível fugir. "Com grande surpresa", o padre proveniente de Krasnodar, no sul da Rússia, perto do mar Negro, viu-se obrigado a resgatar ensinamentos e a lembrar de que fibra é feito o seu país, que acolhe mais de 200 povos, celebra muitas línguas e religiões, que vão desde os cristãos (ortodoxos, protestantes e católicos) aos budistas e muçulmanos. De um Estado tão multicultural e diverso, deve esperar-se completa aceitação, ensina Alexander Piskunov. "A Rússia está a viver esta situação há centenas de anos, e a única forma de conviver com tantas culturas e povos é a tolerância e o respeito", defende. O padre recorda como um dia os pais acordaram e estavam num país diferente, quando, em 1991, foi dissolvida a União Soviética. Filho de pai arménio e neto de avó bielorrussa, Alexander Piskunov constrói todos os dias no 123 da rua Alexandre Herculano uma paróquia que dá resposta aos anseios dos imigrantes de Leste (da Ucrânia, da Geórgia, da Rússia, da Moldávia, da Sérvia, da Bulgária). Pese embora a guerra que decorre para lá das quatro paredes altas da igreja, dentro da paróquia as histórias que se contam são sobre um passado comum que apela a que se deponham as armas. "Quando falamos em Igreja Russa, devemos perceber que a Igreja Russa nasceu em Kiev, no século XX. Kiev, na altura, foi a capital dos russos. Na altura, era um povo unido, mas, depois seguiram caminhos diferentes. Para a igreja russa, Kiev é uma cidade santa, é onde nasceu a nossa crença. Estamos a falar de uma família. Há relações familiares e ligações espirituais muito fortes." Também por isso, ressalva o representante da Igreja Ortodoxa Russa em Portugal, "é horrível o que está a acontecer". Alexander Piskunov Alexander Piskunov ALEXANDER PISKUNOV PREFERE NÃO FALAR DE POLÍTICA Entre os imigrantes que frequentam a paróquia, as relações não foram abaladas, mesmo com os ucranianos, que nesta igreja são a maioria. "O objetivo da paróquia é unir as pessoas, independentemente da posição política", argumenta Alexander Piskunov. É de política que o padre não quer falar. A única bandeira que ergue é a da paz. "Não quero guerras, não quero mortes, não quero sangue. As minhas condolências vão para o povo ucraniano, que está a sofrer... Os povos devem conviver em paz, e nós, seres humanos, temos de ajudar para que isto aconteça." Em Portugal, "um país muito acolhedor, com um povo simpático", o padre encontrou uma forma de vida condizente com o que deseja para os três filhos, de 15, 11 e nove anos. O padre russo também elogia, no seu novo país, a forma como se abraçam as tradições familiares e dominicais, que são mais esparsas na Rússia desde a revolução da União Soviética, em 1917. Desde que a guerra eclodiu, Alexander Piskunov também só viu exemplos de sensibilidade por parte do povo que o acolheu. "Na turma da minha filha mais velha, todos ficaram perturbados com as notícias, e na escola recebeu sinais de atenção, de solidariedade e carinho por parte dos professores, que alertaram aos colegas sobre a necessidade de não associar o conflito político às pessoas", salienta. A DIFICULDADE DE ESCOLHER QUE INFORMAÇÃO CONSUMIR Para se informar sobre o conflito, o pároco russo recorria a fontes originárias do seu país, mas também a órgãos portugueses e em inglês, preterindo a televisão. Agora "a informação russa já não chega a Portugal". Alexander Piskunov diz-se "contra a propaganda", de que não gosta, e não quer sentir-se sobrecarregado de informação, sobretudo durante o período de quaresma, que, como diz, é um apelo ao resguardo e à introspeção. Por isso, tenta afastar-se da torrente noticiosa que ao minuto atualiza os desenvolvimentos da guerra. "Temos de poupar as nossas cabeças para sobreviver. Até para ajudar os outros, temos de ter as cabeças saudáveis." Mas há algo que Alexander Piskunov quer deixar claro: "Há bombas e tropas na Ucrânia, há pessoas que estão a morrer e a sofrer. Isto é o que importa e o que ninguém pode negar. Toda a gente está a sofrer, mas, na Ucrânia, estão a sofrer com todas as mortes... A morte está demasiado perto." Dária Shilyaeva Dária Shilyaeva Para Dária Shilyaeva, de 23 anos, receber as primeiras notícias da guerra teve um impacto muito grande, apesar de admitir que "já se tinha falado da possibilidade de algumas intervenções militares". A estudante de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Católica não esperava que "isto pudesse acontecer", e garante que o choque foi "gigantesco". Aos poucos tenta digerir as informações que vão chegando, sôfregas, sem pedir licença. "Como estudo Relações Internacionais, tento manter alguma imparcialidade. O lado emocional por vezes não deixa, mas tento analisar do ponto de vista da minha formação e não tanto do ponto de vista pessoal, apesar de ter amigos e conhecidos de origem ucraniana e que estão no país." Vai distribuindo palavras solidárias como abraços. "Liguei logo para lhes perguntar como estavam e o que estava a acontecer à volta deles", revela a estudante que mantém, de momento, chats "intermináveis" no Telegram e WhatsApp. A imigrante, que chegou a Portugal há sete anos por decisão dos pais e que até dá explicações de Língua Portuguesa e apoio ao estudo para crianças falantes de russo, reconhece que o Estado em que se deixou acolher "é um país fantástico de se ver, por causa do clima e da simpatia das pessoas". A "experiência tem sido bastante boa", desvela, adiantando, no entanto, que o caso muda de figura quando se trata de reportar a guerra. "Infelizmente, desisti dos órgãos de comunicação portugueses. Vou consultando as fontes diretas: ucraniana e russa. Quando falamos de comunicação russa e ucraniana, também tento procurar testemunhas das pessoas que estão lá." "Neste momento, estou numa posição de observar e tentar perceber o que se passa", atira Dária Shilyaeva, manifestando "um bocadinho de desconfiança" em relação à comunicação social portuguesa. A imigrante russa mantém também as dúvidas quando o assunto é a utilização da palavra 'guerra': "Não sei, genuinamente não sei o que posso responder... Tenho estado a assistir tanto ao lado russo como ao lado ucraniano, tenho acesso direto à comunicação social dos dois lados. Não sei, é uma pergunta à qual é difícil responder." SANÇÕES DEIXARAM OS MAIS NOVOS "ATERRORIZADOS" Dária Shilyaeva conversa com a família com tanta regularidade quanto pode. É nesses diálogos que, de forma mais ou menos explícita, vai notando como as sanções, aplicadas pelos países ocidentais à Rússia, afetam os que encontram no país. "A população mais idosa, com a idade dos meus avós, sente já este impacto, mas não na intensidade que sentem as pessoas da minha idade e um bocadinho mais velhas, na casa dos 30", analisa a imigrante, que também comenta que quem trabalha em empresas privadas sente mais. Particularmente os mais jovens "estão aterrorizados e não entendem como podem as vidas deles continuar desta forma", comenta a estudante. "Tenho amigos na Rússia que trabalham nas empresas internacionais que vão saindo. À medida que as empresas vão saindo, não há propriamente quadro de ação para este tipo de situações, e infelizmente há casos em que as empresas deixam os seus funcionários ao acaso. É algo que nunca aconteceu antes..." Por este motivo, Dária Shilyaeva diz-se contra as decisões tomadas com tamanha rapidez: "Raramente se pensa na vida das pessoas, dos funcionários, de quem sofre com as consequências." "Nós, a comunidade russa que vive fora do país, também acabamos por sofrer com isto. Tenho amigos que estão cá a trabalhar e tentam contribuir enviando dinheiro para a família que está na Rússia, e eles deixaram de ter essa possibilidade devido aos cortes do Swift e retirada dos bancos. É claro que as pessoas se ajustam e adaptam-se, mas leva o seu tempo." A estudante ouve também com atenção os relatos sobre as agressões verbais dirigidas à comunidade russa, mas afirma que não tem sido vítima de bullying. Ao longe, também se sofre, e, por vezes, é difícil chegar à verdade, confidencia ao Expresso. Questionada sobre se tem uma posição política vincada sobre o regime político em vigor na Rússia, Dária Shilyaeva responde: "É uma pergunta a que é difícil responder. Na altura em que vivia lá, era bastante jovem. Vim para Portugal com 16 anos, e não estava propriamente em idade de fazer avaliações. Agora, estando cá em Portugal, as coisas que eu ouço nem sempre batem certo com aquilo que eu vivi." Irina Akhmetova Irina Akhmetova "

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