sexta-feira, 1 de novembro de 2013

EXPLICAÇÃO DAS ONDAS GIGANTES NA PRAIA DO NORTE NA NAZARÉ. SÍTIO DO INSTITUTO HIDROGRÁFICO.

Ondas gigantes na Praia do Norte na Nazaré

  • Como se explica o fenómeno das ondas gigantes na Praia do Norte e a existência destas ondas neste local. (clicar sobre a imagem para a visualisar num tamanho maior)
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A ondulação do largo que chega à zona costeira propaga-se mais rápido sobre o Canhão da Nazaré, onde a água é mais profunda, do que na plataforma continental adjacente, onde a água é relativamente pouco profunda. Esta diferença na propagação da onda dependendo da profundidade sobre a qual ela se move modifica a orientação das linhas de cristas e cavas (dizemos que a onda é refratada pela topografia, tal como os raios de luz são refratados quando passam do ar para a água), criando zonas onde a onda converge. Esta convergência focaliza a energia da onda o que se traduz-se numa amplificação da onda. Este processo parece ser particularmente eficaz na zona ao largo da Praia do Norte, durante os períodos de ondulação (swell) predominante de Noroeste ou de Oeste, e algumas das simulações que fizemos, recorrendo a modelos numéricos , sugeriram que uma onda ao largo com 10m de altura pode ser amplificada por este processo, atingindo cerca de 20m na área da Praia Norte. Este processo é comum em outros canhões submarinos mas o que parece tornar a Nazaré especial, estamos agora a começar a compreendê-lo, é o facto de a orientação deste canhão e o modo como ele intersecta a linha de costa permitirem que ele modifique as correntes que a própria ondulação cria junto à costa, fazendo com que em certos períodos se desenvolva uma corrente forte que se opõe às ondas . Isto proporciona um mecanismo adicional para a amplificação da onda, que assim atinge alturas extremas.
Em poucas palavras, os canhões submarinos como o Canhão da Nazaré, modificam o modo como a ondulação se propaga, permitindo a existência de zonas na proximidade do canhão onde a onda converge e se amplifica. Ao largo da Praia do Norte, este processo parece ser reforçado por correntes costeiras que se opõem às ondas e pela diminuição rápida do fundo que a onda sente ao passar do canhão para a plataforma próximo.
  • Quando foi descoberto o canhão da Nazaré e quais as suas principais características.(clicar sobre a imagem para a visualisar num tamanho maior)
O Canhão da Nazaré é conhecido de há muito, e em tempos remotos considerado como um abismo insondável. O conhecimento científico deste canhão submarino, nomeadamente sobre as suas características gerais nas proximidades da costa, poder-se-á localizar no início do século XX, com um conjunto de levantamentos hidrográficos realizados pela Missão Hidrográfica (o precursor do atual Instituto Hidrográfico), posteriormente descritos por Ferreira de Andrade (1937).
O Canhão Submarino da Nazaré estende-se por cerca 170 km, desde profundidades abissais de 5000m até cerca de poucas centenas de metros da Praia da Nazaré, onde a parte terminal do canhão (chamada a cabeceira do canhão) chega a 150m de profundidade. A parte do Canhão da Nazaré que corta a plataforma continental* constitui um desfiladeiro submarino verdadeiramente impressionante, com uma largura máxima de cerca de 6 quilómetros e paredes que descem até aos 2000m de profundidade. 
* - A plataforma continental é a região que se estende desde costa até ao largo, onde o fundo marinho aumenta progressivamente com um declive moderado, até profundidades de cerca de 200m.
  • Qual a altura do ano em que se regista neste local uma maior ondulação.
As condições extremas de agitação marítima ao largo da costa da Nazaré ocorrem durante os períodos de tempestade de Inverno. Desde 2009 o Instituto Hidrográfico tem instalado naquela área um sistema de monitorização em tempo real (sistema MONICAN) que integra boias capazes de transmitir todas as horas os dados de ondas, vento e correntes. Essas boias tem-nos permitido “tomar o pulso” das ondas extremas ao largo da costa da Nazaré, tendo-nos revelado períodos em que a ondulação ao largo atingiu alturas máximas de 21-22 metros. Certamente que estas ondas, ao chegar à área da praia Norte, terão sofrido uma amplificação considerável. O que não significa que essas ondas extremas sejam surfáveis, uma vez que esses períodos de tempestade estão associados a ventos fortes e uma importante geração de agitação local (vaga).
Canhão Submarino da Nazaré Canhão Submarino da Nazaré Simulação da propagação da onda no canhão da NazaréAnimação das correntes costeiras da Praia Norte
Canhão Submarino da Nazaré Canhão Submarino da Nazaré Simulação da propagação
da onda no canhão da Nazaré
Animação das correntes
costeiras da Praia Norte

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