terça-feira, 8 de setembro de 2020

PREVISÕES DA ACTIVIDADE TROPICAL 2020 (IPMA)

 

PREVISÕES DA ATIVIDADE TROPICAL 2020

Furacão Lorenzo Açores, 20192020-09-07 (IPMA)

Um ciclone tropical consiste num sistema de baixas pressões com um núcleo quente, que se desenvolve em águas tropicais e subtropicais com uma circulação fechada e organizada, podendo durar vários dias. Embora as diferenças de pressão no seu seio sejam muito superiores às que normalmente ocorrem nos ciclones das latitudes médias, as suas dimensões são geralmente inferiores com um valor típico de diâmetro de cerca de 660 km.
Mas a meteorologia tropical não se restringe à faixa de latitudes entre os trópicos de Câncer (23,5°N) e Capricórnio (23,5°S), abrangendo uma região mais alargada compreendida entre os centros dos anticiclones subtropicais ou aproximadamente entre 30°N e 30°S. É interessante notar que estas perturbações não sendo muito evidentes à escala sinóptica, não aparecem nos mapas médios mensais.
Para a formação de um ciclone tropical a temperatura da superfície do mar terá de ser de pelo menos 27°C, sendo assim natural que estas perturbações tenham a sua origem perto do equador. No entanto, são raras as tempestades que ocorrem dentro da faixa dos 5° de latitude devido à insuficiente Força de Coriolis, que é a força que faz com que o ciclone gire.

Resumo histórico - Açores
Historicamente, os Açores têm sofrido os efeitos destes fenómenos tropicais, como enumeramos de seguida.

“ciclone” de 8 de agosto de 1893 é considerado o mais devastador de sempre nos Açores causou graves prejuízos no grupo Central, levando a uma grave crise alimentar devido à destruição das colheiras agrícolas. Habitações e outras infraestruturas foram destruídas, registaram-se naufrágios e registaram-se pelo menos 28 vítimas mortais. As ruínas da igreja velha de S. Mateus da Calheta na Terceira são a presente lembrança do grau de destruição deste furacão. De acordo com o arquivo do NHC, este terá sido o 7º ciclone tropical da temporada de 1983, tendo passado perto dos Açores com uma intensidade de equivalente a um furacão de categoria I com ventos médios máximos de 139 km/h. O vento médio máximo registado em Angra do Heroísmo foi de 90 km/h.

Do furacão Carrie em 22 de setembro de 1957 não há registos de danos nas ilhas; contudo, este furacão ficou célebre na história por ter causado o naufrágio do navio alemão Pamir no dia 21 de setembro a 600 milhas a SW dos Açores, bem como a morte dos 80 membros da tripulação. Na sua aproximação aos Açores, este furacão terá passado a categoria I com ventos médios máximos de 139 km/h.  

O furacão Emmy não tendo causado grandes prejuízos materiais nos Açores, ficou marcado na história por estar na origem do desastre aéreo do C-130 da Força Aérea Venezuelana que transportava um orfeão universitário quando tentava aterrar na Base das Lajes. Morreram todos os passageiros e tripulação, num total de 68 pessoas. O centro do Emmy passou a leste da Terceira com categoria I com ventos nédios máximos e 120 km/h

Em 20 de setembro de 2006 o furacão Gordon derrubou árvores, provocou estragos em edifícios e na rede elétrica em Santa Maria e prejuízos nas colheitas agrícolas em S. Miguel. O centro deste furacão passou muito perto da ilha de S. Miguel com categoria I com ventos médios máximos de 130 km/h.

Os efeitos do furacão Lorenzo estão ainda bem presentes na vida dos Florentinos e Corvinos, sobretudo devido aos danos no porto das Flores. Com uma trajetória dirigida ao grupo Ocidental acabou por afetar também o grupo Central, provocando feridos ligeiros, dezenas de desalojados e danos nas redes elétricas, condicionamento nas ligações terrestres, aéreas e marítimas. No dia 30 de setembro o Instituto Português do Mar e da Atmosfera emitiu um aviso de furacão para o Arquipélago: viria a ser considerada a tempestade mais forte a atingir os Açores desde há 20 anos. Registaram-se rajadas de 163 km/h no Corvo e 145 km/h nas Flores e Faial e ondas de cerca de 12 metros de altura significativa.

Previsão da Atividade Tropical em  2020

A 6 de agosto de 2020 o NHC (National Hurricane Center) informava que as condições da atmosfera e do oceano seriam propicias a uma temporada de ciclones tropicais extremamente ativa na bacia do Atlântico. A atividade de cada temporada pode ser avaliada com base nas projeções do índice ACE (Acumulated Cyclone Energy) o qual se baseia na intensidade e na duração de todas as tempestades nomeadas em cada estação. Fez ainda saber que, até essa data já tinham sido nomeadas 9 tempestades, número que supera em muito a média de 2 tempestades no início de agosto, com a nona a ser nomeada normalmente no início de outubro.

Assim, para esta época, o NHC estima que possam ser nomeadas até 25 tempestades, sendo que destas 11 poderão tornar-se furacões. Com base na projeção do índice ACE que indica uma probabilidade de 85% da presente temporada de furacões ser acima do normal, deveremos esperar tempestades mais fortes e com maior tempo de vida do que a média.

Por outro lado, as previsões a longo prazo do ECMWF (European Centre for Medium-Range Weather Forecasts) para a bacia do Atlântico e para os próximos 6 meses (setembro a fevereiro) apontam para 8,2 ± 2,6 tempestades tropicais, quando a média para o mesmo período é de 7,5. O mesmo modelo aponta para 4,6± 1,9 furacões, quando a média é 4,6. O índice ACE previsto para o mesmo período é cerca de 20 % maior que a média.  

Para que isto aconteça são necessárias condições especiais: temperatura da água do mar à superfície mais alta do que a média no Atlântico tropical e no mar das Caraíbas, diminuição da variação do vento em altitude (wind shear), ventos alísios mais fracos e uma monção (da África Ocidental) reforçada.

Um dos principais fatores climáticos por detrás destas condições é a fase presente fase quente da Oscilação Multi-Decadal do Atlântico, que desde que reapareceu em 1995 tem vindo a favorecer temporadas de furacões mais ativas.
Outro fator climático que contribui este ano é a possibilidade de La Niña se desenvolver nos próximos meses e que pode enfraquecer ainda mais o shear sobre a bacia atlântica, permitindo que tempestades se desenvolvam e se intensifiquem.

Nesta data, as previsões de longo prazo do ECMWF não indicam qualquer anomalia significativa na densidade de tempestades tropicais na região do Atlântico compreendida entre Portugal Continental e as regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

Assim, embora a presente temporada de furacões no Atlântico se preveja mais ativa do que a média, não significa isto que seja na nossa região.

 

 Já é possível acompanhar a previsão de trajetórias dos ciclones tropicais no mundo, através do site do IPMA: https://www.ipma.pt/pt/otempo/prev.ciclones/

 

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