terça-feira, 28 de janeiro de 2014

CiênciaHoje - Como é que o cérebro cria sequências?

Como é que o cérebro cria sequências?

Estudo de Rui Costa revela que os neurónios dos gânglios da base
sinalizam a ligação dos elementos individuais numa sequência

2014-01-27
O melhor conhecimento destes circuitos pode contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens a diversas doenças neurológicas, como o Parkinson ou a doença de Huntington
O melhor conhecimento destes circuitos pode contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens a diversas doenças neurológicas, como o Parkinson ou a doença de Huntington
Num artigo publicado ontem na revista científica Nature Neuroscience, o neurocientista Rui Costa, o pós-doutorado Fatuel Tecuapetla, ambos investigadores do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, e Xin Jin, investigador no Salk Institute em San Diego – EUA, revelam que os neurónios dos gânglios da base sinalizam a ligação dos elementos individuais numa sequência.
Quando estamos a aprender a tocar piano, primeiro aprendemos umas notas, depois passamos às escalas e aos acordes e só então conseguimos tocar uma peça. O mesmo princípio pode ser aplicado à fala e à escrita, onde em vez de escalas aprendemos o alfabeto e as regras da gramática.

Mas como é que estes elementos mais pequenos são aglutinados, criando assim uma sequência única e com sentido?

Sabe-se que existe uma área específica no cérebro, os gânglios da base, responsável por um mecanismo denominado de chunking, através do qual o cérebro organiza de forma eficiente memórias e acções. No entanto, até agora sabia-se muito pouco sobre como é que este mecanismo é implementado nestes circuitos neuronais.

“Treinámos ratinhos numa tarefa em que os animais tinham de pressionar uma alavanca, a uma velocidade cada vez mais elevada. De certo modo semelhante a alguém que está a aprender a tocar uma peça de piano com um ritmo progressivamente mais acelerado,” explica Rui Costa. “Enquanto os ratinhos estavam a desempenhar esta tarefa, medimos a atividade neural nos gânglios da base e conseguimos identificar neurónios que processam uma sequência de acções como sendo um comportamento único.”
Estudo envolveu treino de ratinhos
Estudo envolveu treino de ratinhos
Nos gânglios da base funcionam duas grandes vias ou circuitos neurais, a directa e a indirecta. Neste artigo, os autores mostram pela primeira vez que, apesar destas duas vias funcionarem de forma semelhante durante a iniciação do movimento, têm funções bem distintas durante a execução de uma sequência comportamental.

“Os gânglios da base e estes circuitos são absolutamente cruciais para a execução de ações. Estes circuitos são afetados em diversas doenças neurológicas, como o Parkinson ou a Doença de Huntington, nas quais a aprendizagem de sequências de ações está comprometida", acrescenta Xin Jin.

O trabalho publicado neste artigo é para Rui Costa “apenas o início desta história”. Os  vinte investigadores do “Neurobiology of Action Lab”, grupo liderado pelo investigador no Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, continuarão a estudar como é que os gânglios da base se organizam a nível
funcional, durante a aprendizagem e execução de sequências de acções.

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