sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Depoimento de um aluno explicando porque "admitiu" entrar nas praxes!

PRAXES ACADÉMICAS

"A praxe é uma coisa muito estranha"

por Fernanda Câncio26 janeiro 201483 comentários
"A praxe é uma coisa muito estranha"
Fotografia © Leonardo Negrão/ Global Imagens
Que é isto da praxe, donde vem e como é possível que, com pelo menos uma morte, várias denúncias de abusos criminosos no palmarés e até apelidada de fascista pelo anterior ministro do Ensino Superior, continue de vento em popa, com cada vez mais manifestações e entusiasmo, a ponto de haver professores a queixarem-se de ser praxados e de ter medo dos praxantes? Quando se discute a hipótese de as seis mortes de alunos da Universidade Lusófona no Meco terem sucedido num contexto de práticas "praxísticas", o DN tenta perceber
"Quando entras nem és caloiro, és verme." Maria Manuel Alves, 24 anos, acabou em 2011 o curso na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa mas ainda não se esqueceu dos hematomas com que ficou de horas a fazer "granadas". "O que é? É mandares-te para o chão e tapares a cabeça com as mãos quando eles gritam granada. Ainda tentei proteger-me mandando primeiro os joelhos, mas fiquei bastante magoada." Até rebentou com um relógio na brincadeira. "A minha mãe via--me chegar toda pintada (ainda tentava na estação do Campo Grande tirar aquilo, mas não saía tudo), magoada, chateada, e perguntava--me: "Porque é que te metes nisso?""
Porquê, de facto? Maria Manuel hesita, sorri. "Pois. É um bocado psicológico. Não me perguntaram sequer se queria entrar. Entras no primeiro ano, és caloira, estás na praxe. E eu era muito timidita, aquele tipo de miúda que fez o secundário com 18 e tinha a ideia de que haveria vantagens do ponto de vista académico, supostamente os padrinhos - cada caloiro tem um padrinho ou uma madrinha - facilitavam apontamentos e testes anteriores e se não entrássemos na praxe não teríamos acesso a essas coisas (a ironia é que depois percebi que estava tudo nos computadores da escola). Decidi por isso não me declarar contra. Logo no primeiro dia cheguei atrasada por viver no Montijo e tive de ir explicar a situação à minha madrinha e ela percebeu porque também vivia na Margem Sul e deu-me autorização para chegar mais tarde."

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