terça-feira, 14 de novembro de 2017

Porque não chove no continente?

METEOROLOGIA

Anticiclone dos Açores, o escudo que impede a chuva de chegar ao continente

480
4
Os níveis de precipitação em Portugal estão 30% abaixo do normal. Há 20 anos que não se via um outono tão seco. A culpa é do anticiclone dos Açores, que impede a chuva de chegar ao continente.
Getty Images/iStockphoto
Há 20 anos que não se via nada assim. O último relatório do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) diz que este outono está a ser “extremamente seco” e que tem chovido 30% menos do que os volumes precipitados médios registados nas últimas duas décadas. E o calor é tanto — outubro foi o mês mais quente desde 1930 — que três quartos do país está em seca extrema. Os outros 25% estão em seca severa. Os números não mentem: é preciso que a chuva comece a cair. Mas porque é que isso não acontece? De acordo com Ricardo Tavares, meteorologista do IPMA, a culpa tem sido do anticiclone dos Açores.
Enquanto Portugal Continental se tem debatido com um outono com temperaturas 3ºC acima do normal, o arquipélago dos Açores volta a estar sob aviso amarelo de precipitação e trovoada desde as 18h desta segunda-feira até 21h de terça-feira. Isso acontece porque há uma superfície frontal fria — uma massa de ar vinda do norte da Europa — a chocar contra a massa de ar mais quente que existe por cima de Portugal.
Quando essas duas massas de ar a temperaturas e humidades diferentes se encontram, o ar quente tende a subir e o ar frio tende a descer. Em altitude, o ar quente encontra temperaturas mais baixas e condensa sob a forma de gotículas, dando origem às nuvens. Assim que houver muita água condensada na atmosfera, essas gotículas ficam demasiado pesadas e então começa a chover. É isto que vai começar a acontecer nos Açores em breve. O problema é que essa chuva não vai chegar a Portugal Continental: porque os Açores já abriram o guarda-chuva.
Segundo o que explica Ricardo Tavares ao Observador, o facto de não ter chovido no continente é “efeito de uma crista anti-ciclónica”, isto é, uma região alongada de altas pressões atmosférica onde o ar fica mais seco, há menos humidade e, portanto, menos formação de nuvens que possam dar origem à chuva. Essa região chama-se Anticiclone dos Açores, um grande centro de altas pressões atmosféricas que condiciona muito estado do tempo no continente: se ele estiver ativo, está bom tempo em Portugal Continental. E ele está quase sempre: é um anticiclone subtropical semipermanente. E este ano não está a dar tréguas.
Acontece que o Anticiclone dos Açores funciona como um guarda-chuvas para o continente: enquanto ele estiver ativo, a chuva chega ao arquipélago açoriano e encontra uma barreira que impede a massa de ar frio de avançar para leste e de recair sobre a Madeira ou sobre Portugal Continental. Enquanto essa depressão vinda de norte — um centro de baixa pressão atmosférica — ficar impedida pelo anticiclone dos Açores de baixar em latitude, o Sol continuará a brilhar no continente. E o período de seca vai prosseguir, até porque não há previsão de chuva para os próximos tempos.

Sem comentários:

Enviar um comentário