O enorme mercado português | PINN
Sexta-feira , 4 Outubro 2013
Depois de um namoro sério e demorado quanto baste, a PT vai mesmo casar-se com a Oi, brasileira. A
consumação da boda é uma questão de somenos importância, será para o ano, mas só o anúncio da
cerimónia deu azo a vivas e um festim nas bolsas de Lisboa e S. Paulo, com ambas as empresas a
valorizarem sobremaneira.
Por cá, e com justiça, exultou-se. Finalmente, uma empresa portuguesa ganha escala e passa a ser um
‘player’ na primeira divisão mundial do sector das telecomunicações. Uma internacionalização alicerçada
em cerca de 100 milhões de clientes e, mais importante, com o enorme potencial de crescimento que o
mercado brasileiro representa. Só em sinergias é esperado que a nova empresa gere 1,8 mil milhões de
euros.
Para já tecnicamente baptizada de CorpCo., a nova empresa “com raiz nos países de língua portuguesa”,
será cotada nas bolsas do Brasil, na NYSE, em Nova Iorque, e na Euronext, em Lisboa, revelou o homem
forte da PT, Zeinal Bava, que será o presidente executivo (CEO) do futuro gigante. Do acordo pré-nupcial
consta ainda que a gestão será única e com forte poder de decisão português, mas a empresa ficará
sedeada no Brasil.
E é precisamente esta ‘deslocalização’ que preocupa um pouco, por mais que Bava diga que em Portugal
tudo continuará como até aqui. É que além da deslocalização do centro de decisão, é sabido que os
accionistas da PT terão direito a ‘apenas’ 38% da futura empresa, logo ficarão em minoria perante os
restantes do lado brasileiro, entre os quais se conta o próprio Estado.
Deste modo, é evidente que Portugal passará para segundo plano no contexto global da grandiosa
empresa, passa a ser uma filial, com todas as penalizações que daí sempre resultam, nomeadamente o
desinvestimento. De facto, as maiores potencialidades de crescimento da CorpCo. estão no Brasil e é por
demais expectável que os investimentos sejam para aí canalizados. Bava, aliás, confirmou-o ao dizer que a
política de investimentos terá de ser “ajustada”.
A somar a isto há ainda a questão fiscal que, a avaliar pelas declarações de um alto responsável do
Governo, poderá não ter sido devidamente equacionada. Na verdade, enquanto a PT garante que não
haverá transferência de impostos de Portugal para o Brasil, e que “continuará a pagar os impostos, quer
em sede de IRS, quer em sede de IRC, em Portugal”, o secretário de Estado das Telecomunicações admitiu
que o Governo “não tem como aferir se haverá perda de receitas fiscais”. Não tem, mas devia!
Mas louve-se o espírito de iniciativa e a ambição de chegar mais longe. A verdade é que a PT ficará em posição privilegiada para poder dominar os mercados português e brasileiro. Uma afirmação lusitana no mercado das telecomunicações, que poderá até não se ficar por aqui.
De facto, outra nova empresa resultante de uma fusão, a da Zon com a Optimus, pretende também
expandir-se nos mercados internacionais, concretamente o da língua portuguesa em África. A Zon, de
resto, já está presente na televisão por satélite em Angola e Moçambique (ZAP), em parceria com Isabel
dos Santos, que, através da empresa de comunicações móveis angolana Unitel, tem-se expandido
também a países de língua portuguesa, casos de S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Com a fusão, é de
prever que a aposta seja para manter ou até para reforçar. Deste modo, e estes dois exemplos confirmam
que é possível, os mercados de língua portuguesa afiguram-se cada vez mais como o caminho a seguir
para as nossas empresas e economia, incapazes de acompanhar o ritmo dos nossos parceiros europeus.
Luís Figueiredo
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