sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Metro do Porto pagou um milhão a uma consultora


DIÁRIO ECONÓMICO

Swaps

Quem é o sírio a quem a Metro do Porto pagou um milhão


Rui Barroso 
25/10/13 00:06

Empresa contratou consultora do analista que o Parlamento não quer ouvir, para reestruturar swaps em 2010.
A Metro do Porto pagou um milhão de euros à consultora Ethos Advisory Services por dois contratos para reestruturar swaps. A história tem como protagonista o especialista em derivados financeiros que quer agora contar ao Parlamento tudo o que sabe sobre os contratos de alto-risco que foram assinados pelas empresas públicas nacionais: Jaber G. Jabbour.
Os contratos foram adjudicados em 2010, quando o Banco Central Europeu (BCE) já estava num ciclo de descida das taxas de juro. A Metro do Porto adjudicou à empresa de Jaber G. Jabbour o processo de reestruturação de duas operações. A primeira, a componente ‘back-to-back' dos swaps com o Goldman Sachs e o Nomura (um swap originalmente contratado ao banco norte-americano cujos efeitos se tentaram neutralizar com um swap espelho feito com o banco japonês). A segunda consistia na reestruturação de uma operação celebrada com a JP Morgan.

Por cada um destes processos, a empresa liderada na altura por António Oliveira Fonseca - e que tinha o antigo Secretário de Estado da Defesa, Braga Lino, como director financeiro e administrativo - pagou 500 mil euros em 2010. O milhão de euros ganho pela Ethos Advisory Services é mais do dobro do valor que o IGCP pagou para contratar a StormHarbour no processo de avaliação dos swaps das empresas públicas. De referir, no entanto, que pelo que é dado a perceber no relatório e contas da Metro do Porto, a Ethos de Jaber G. Jabbour reestruturou os contratos, enquanto a StormHarbour se ficou pela assessoria técnica ao IGCP nas negociações com a banca.

O valor ganho pela Ethos Advisory Services terá estado indexado aos resultados conseguidos com a reestruturação daqueles instrumentos financeiros. No relatório de 2010, a Metro do Porto referiu que as reestruturações resultaram num "benefício económico por redução do custo das operações, bem como da redução da exposição a alguns dos factores de risco associados". O Diário Económico contactou o Metro do Porto, mas não obteve respostas até ao fecho da edição.

Braga Lino referiu esta semana na Comissão de Inquérito que em 2009 foi ele quem deu início ao processo de proposta de contratação de assessoria financeira especializada. Isto apesar de ter referido que todas as operações e adjudicações tinham que ser aprovadas e autorizadas pela Comissão de Executiva da empresa e, em algumas situações, do Conselho de Administração. Braga Lino garantiu que os resultados dessa assessoria foram "muito favoráveis" e que podiam ter tido um impacto ainda mais positivo se, em 2011, a administração não tivesse impedido nova contratação do assessor financeiro. O ex-gestor considerou a entidade contratada como "independente e internacionalmente credível", até porque o auditor das contas do Metro do Porto também validou a empresa.

Contudo, Jaber Jabbour não convenceu ainda os deputados da comissão de inquérito aos swaps. Ao que o Diário Económico apurou, os deputados pediram que o especialista enviasse toda a documentação de que dispõe sobre o caso dos swaps em Portugal para avaliar a sua credibilidade, mas a resposta não foi convincente. Por enquanto, os grupos parlamentares consideram que Jabbour não deve ser chamado à comissão.
Quem é Jaber G. Jabbour?
Contactado pelo Diário Económico, Jabbour recusou qualquer comentário sobre a sua actividade profissional e sobre os negócios que fez noutros países. Espalhada pela internet, está informação de que ajudou a reestruturar a dívida pública iraquiana, depois da queda do regime de Saddam Hussein. O Diário Económico também obteve informação de que Jabbour terá trabalhado com um município italiano para reestruturar a sua dívida. O Económico sabe que Jabbour reuniu-se em Lisboa com os técnicos do FMI para chamar a atenção para o problema dos swaps de empresas públicas e que contactou várias vezes o IGCP (agência que gere a dívida pública) propondo os seus serviços nesta área.

Mas Jabbour não quis comentar: "Não posso fazer qualquer comentário sobre o meu trabalho na Goldman Sachs ou sobre a minha relação com qualquer entidade pública específica, incluindo a Metro do Porto, o Iraque, Itália ou qualquer outro país".

O líder da Ethos adiantou apenas um ou dois factos sobre a sua vida pessoal. "Cheguei ao Reino Unido em 2004 para completar um mestrado em Finanças no Imperial College, na Universidade de Londres", contou, adiantando que foi "o melhor aluno do curso".

De acordo com a Financial Conduct Authority - a autoridade reguladora deste mercado que está sob a alçada do Banco de Inglaterra - a empresa Ethos Advisory Services só tem um nome associado: o de Jaber G. Jabbour. Desde 31 de Outubro de 2012 que esta consultora financeira deixou de estar autorizada a actuar no mercado. O Diário Económico sabe que Jaber G. Jabbour encerrou a actividade para alterar a estrutura do seu negócio. É que este especialista em produtos financeiros dedica-se também a outros temas: inventou, por exemplo, um alfabeto fonético para aproximar a comunicação entre falantes de diferentes línguas (o SaypYu). "A ideia do alfabeto surgiu enquanto eu viajava de Lisboa para Londres", conta.

O sírio olhou para a frase "Instruções de Segurança" que estava no lugar à sua frente e deu-se conta de como a frase em português era simples de associar ao inglês, mas muito difícil de pronunciar. Foi então que se lembrou de criar um código universal para a fonética. Por exemplo, a frase "reestruturar swaps por um milhão de euros" diz-se do seguinte modo em árabe: "l'i'aada hiikla altbaadl lmlyuun yuuruu".

Ora, como uma empresa autorizada pela FCA não podia ser dona de outra empresa para desenvolver este tipo de actividades, Jabbour alterou a estrutura do grupo: criou a Logos Capital, que desenvolve o negócio do alfabeto fonético, e que é dona da Ethos Capital, a nova empresa de consultoria financeira. Para esta nova Ethos, trabalham Jabbour e Bechara Habib Madi.

Conforme a FCA confirmou ao Diário Económico, Jabbour está autorizado a prestar aconselhamento financeiro a clientes e a agir em seu nome no mercado, entre outras actividades específicas.

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