VidaEconómica
EMPRESAS, NEGÓCIOS, INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO
Nº 1509/27 de setembro 2013 Semanal €2,20 Portugal
Continental
JORGE A. VASCONCELLOS E SÁ
Mestre Drucker School PhD Columbia University
Professor Catedrático
E-mail: nop4867@mail.telepac.pt
linked In: http://www.linkedin.com/in/vasconcellosesa
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The
Atlantic, Ricardo Reis e o Mistério de porque Portugal está tão condenado
A edição de Junho da revista em título, publicava um artigo
sobre: o mistério de porque Portugal está tão condenado. Ou seja,
Portugal está a tornar-se
num case-study internacional. Só que infelizmente, pelas
piores (e não melhores) razões.
Porque é que um país, com um clima ameno, uma imensa costa
marítima, condições excepcionais para o turismo, inserido no espaço económico
mais rico do mundo (em termos absolutos), localizado entre este e o 2° mais
rico (EUA), tem uma economia que é um desastre?
Que não é de hoje. Antes da actual crise houve a década
perdida. E antes dela já Portugal era um atraso: com a produtividade e O PIB
per capita ± a 2/3 da média (e não dos melhores países, mas da média) europeia.
Assim para esclarecer o mistério, o artigo de Matthew
O'Brien no Atlantic, recorre
a yárias contribuições, entre elas as de Ricardo Reis, um compatriota nosso, professor em
Columbia e que - tendo uma cabeça cartesiana - é sempre um prazer ler.
Ricardo Reis contribui com um gráfico que mostra que entre
2000 e 2012 Portugal cresceu menos per capita que os EUA durante a grande
depressão (!) ou o Japão na chamada "década perdida".
Ou seja: não temos hoje uma depressão depois de um boom. Mas
de uma queda depois de uma longa estagnação/declínio constante.
Perante os factos, vêm as especulações sobre as causas: o
sector financeiro para alguns, a corrupção para outros, a excessiva
regulamentação para terceiros.
Já que todos dão a sua opinião, aqui vai a minha
(modestíssima) e deixem-me começar por uma pergunta: quando é que Portugal
foi um sucesso económico? Desde que o Brasil se tornou independente, o
século 19 foi um longo e contínuo declínio.
Em 1926 o PIB per capita era 12% (!) inferior ao do início
da República. Em absoluto 8%. Mais de 600 mil portugueses tinham emigrado.
O Estado Novo abdicou de crescer (o Professor Oliveira
Salazar dizia que era uma grande vantagem aceitar-se ser pobre).
E depois do golpe militar de Abril, Portugal é único país no
mundo (creio) mas na Europa (certamente), que em pouco mais de três décadas
(1978-2011) foi três vezes à bancarrota.
Exceptuam-se como períodos de franco crescimento a década de
60 (EFTA + África + remessa dos emigrantes + abertura ao exterior a partir de
um ponto de extrema pobreza) e os anos 85-93 do cavaquismo impulsionados pelo
"ouro" de Bruxelas (em que Portugal se aproximou 14% da média
europeia).
Em síntese. Os problemas não são de hoje. E vamos então à
explicação.
Primeiro: emigração. O brain drain. A selecção negativa.
Embora muitos bons optem por não emigrar, todos os que
emigram são dos melhores: em capacidade de trabalho, flexibilidade, assumpção
de risco, cosmopolitismo. Por isso Fernando Pessoa dizia que uns mandam-se ao
mar, outros ficam agarrados à terra. E um povo de emigração é um povo de
restos.
Segundo: é sabido que nas revoluções o pêndulo desloca-se
para o extremo oposto, antes de regressar ao meio.
Assim com Abril, uma série de oportunistas (para
"tachos" em empresas públicas) tiveram cobertura ideológica para
criar uma economia de esquerda, cheia de estado, instituições públicas e
regulamentação (Portugal é 67° no mundo em termos de liberdade económica).
Terceiro: esta (des) economia permitiu duas coisas.
A nível individual que florescessem os piores dos demónios portugueses (cada
povo tem, sem excepção, os seus): a vaidade (qualquer crítica é uma ofensa); a
inveja (destruidora); o negativismo (mãe do imobilismo). Por oposição a uma
economia livre, onde o consumidor é soberano e de concorrência (que estimula
cada um a dar o seu melhor: o concorrente é um ajudante - Edmund Burke).
E (quarto): com a (des)
economia socialista veio também a falta de
ética de trabalho: a pontualidade, o esforço, a iniciativa e o
sentido de responsabilidade. A isto tudo chama-se em Portugal "direitos
dos trabalhadores". Direitos, sem deveres. Para com os clientes ou
contribuintes. Pelo que criam prejuízos. Destroem valor. Dão menos à sociedade
(vendas) do que dela retiram (custos). Quando certo é que, vício não é o lucro,
vício são os prejuízos (Churchill).
Quinto e finalmente: tudo isto reforçando novamente a emigração.
O brain (e arms - braços) drain. Só registados nos
consulados no estrangeiro (e quantos não se registam?) há actualmente 5 milhões
de portugueses.
Em síntese;
emigração + (incentivo à) inética do trabalho + ausência de liberdade económica
= a (já antes da crise actual) - termos sido ultrapassados por Chipre,
Eslovénia, Rep. Checa, Malta e Eslováquia.
Donde, o problema não é
pois de agora. Ou estes países não tiveram também a crise mundial?
É de facto, como se costuma dizer, colocar os pontos nos ii,s!
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