quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O que tem a ver um grave problema de saúde de Louis XIV de França e o hino da Inglaterra.


       História da fístula anal de Louis XIV e o hino da Inglaterra

       Por Tom Pavesi
      
       Em 1686,  Louis XIV, 48 anos, soberano mais poderoso da
       Europa, estava prestes a perder uma batalha de ordem privada,
       uma batalha contra uma doença incômoda.
       
       O rei sofria os horrores de uma fístula anal.
       
       Seu médico, Antoine D’ Aquin, tentou resolver o problema com
       os meios disponíveis na medicina da época: remédios, pomadas,
       cataplasmas e outras aplicações cutâneas reputadas como sendo
       perigosas. Nada.
       
       O rei prostado, anulou festas, cavalgadas e aparições em
       público e, da sua cama, ditava ordens e dirigia o país.
      
       O rumor  era que o rei estava morrendo.
       

       Instrumentos usados na cirurgia de Louis XIV

       Um dia, o cirugião Charles-François Félix de Tassy, depois de
       testar em pobres, mendigos e pacientes abandonados em hospitais e
       hospício um método inovador de tratar essa doença, tomou a decisão de
      operá-lo. E assim foi feita uma incisão no canal do ânus real com um
      bisturi de lâmina curva, inventado especialmente para esta intervenção cirúrgica.
       
      A operação, realizada sem anestesia, foi um sucesso. Louis XIV
       aguentou tudo, afrontou o mal com muita coragem e, como nas batalhas,
       foi vitorioso de uma guerra dada por muitos como perdida.
       No mesmo dia, após um leve descanso, encontrou com ministros,
       tratou de assuntos cotidianos e diplomáticos e fez uma aparição
       públic para ser aclamado pela corte.
       
       O rei voltou mais forte, divino, mais soberano do que nunca.
       Após a cirurgia, Louis XIV fez uma visita à Maison Royale de

       Saint-Louis, escola recém-construída para as filhas de nobres mortos
       pela França.
       
       A religiosa fundadora, Madame de Brinon, querendo agradar o
       rei, escreveu um texto para ser declamado pelas alunas: Grand Dieu
       sauve le Roi.
      
       Mais tarde este poema foi colocado em música pelo compositor
       oficial de Versalhes Giovanni Battista Lulli e se tranformou em hino
       real francês até a dissolução da monarquia absoluta  em 1792.

       
       Grand Dieu, sauvez le Roi !
       Grand Dieu, vengez le Roi !
       Vive le Roi !
       Qu’à jamais glorieux,
       Louis victorieux
       Voye ses ennemis
       Toujours soumis

       

Hino inglês
Vinte e oito anos mais tarde, o compositor alemão Georg
Friedrich Haendel, convidado em Versailles, conseguiu uma permissão
para copiar o texto e a música. Traduzido para o inglês pelo músico e
poeta Henry Carey,  Haëndel vende ao rei da Inglaterra, Georges I, a
nova composição, God Save the King.


        God save our gracious King,
       Long live our noble King,
       God save the King !
       Send him victorious,
       Happy and glorious,
       Long to reign over us,
       God save the King !

E foi assim que graças à colaboração de uma francesa, Madame
de BRION,  de um italiano, LULLY, de um inglês, CAREY, de um alemão,
HAËNDEL, de um bisturi inventado por um médico francês e da fístula
anal de Louis XIV que nasceu o hino nacional atual da Inglaterra:

       

       God Save the Queen 

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