terça-feira, 5 de dezembro de 2017

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 O perigo dos escritórios bonitos






 
 
 
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4.0 Tecnologia, inovação e empreendedorismo
 
 
  João Pedro Pereira  
 
 
 
 
4 DE DEZEMBRO DE 2017
 

O perigo dos escritórios bonitos

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Os gigantes tecnológicos são exemplos cabais de como uma grande empresa consegue tomar conta da vida dos funcionários. Sob a capa de regalias e numa espécie de competição para ver quem tem instalações com mais piscinas e mesas de snooker, janelas maiores, espaços ajardinados mais vastos, cantinas mais gourmet, e arquitectura mais futurista, o resultado é uma série de bolhas mais ou menos uniformes, em que os tipicamente bem pagos empregados se afastam, ainda mais, do resto do mundo.
A futura sede do Google em Londres já foi anunciada há uns tempos, mas está agora a ser propalada nas notícias como um possível exemplo de cidade do futuro, por ser um “arranha-céus invertido”: relativamente baixo, o edifício estende-se ao longo de 300 metros. No topo, há um enorme jardim, onde (a crer nas imagens criadas em computador) os funcionários poderão passear e deitar-se tranquilamente na relva, apreciando de cima o bulício londrino. É verdade que isto (bem como os vários campos de basquetebol) poderá tornar a ideia de ir para o trabalho todos os dias (e lá passar uma boa porção do tempo) muito mais agradável; mas também reduz a necessidade de passear pelos convencionais jardins públicos e pelas ruas, onde a vida normal se desenrola.
Já aqui tínhamos abordado o tema, a propósito de uma espécie de vila que o Facebook quer construir para os seus trabalhadores – com farmácia, supermercado e café incluídos – e do novo edifício-sede da Apple, que se assemelha a uma enorme nave espacial, voltado para dentro e de costas para o que o rodeia.
Estas empresas estão a transformar-se numa espécie de super-creche para os seus trabalhadores adultos, infantilizando-os: a empresa proporciona o trabalho, o salário, a alimentação, o transporte e a diversão. Com uma vila Facebook, onde até as casas serão mais baratas, são menos as razões para viver no mundo a sério, e este alheamento é problemático no caso de gigantes cujos produtos se entranham no quotidiano de quem tenha uma vida minimamente digital.
O fenómeno não é novo. Os edifícios enormes e futuristas de grandes empresas existem há décadas, e mesmo as company towns são uma realidade conhecida, tanto nos EUA, como noutros países, entre os quais Portugal. A questão é que fazer rolos na Kodak, ou panelas na Alba, não implica o mesmo tipo de responsabilidade, nem exige o mesmo conhecimento da realidade, que criar algoritmos com alcance mundial.

Digno de nota

- O Facebook lançou (por ora, apenas para iOS e nos EUA) uma aplicação de mensagens destinada a crianças com menos de 13 anos (que, teoricamente, estão impedidas de usar as outras ferramentas da rede social). Os pais podem controlar com quem as crianças conversam.
- A propósito de redes sociais, uma leitura recomendada: o jornalista de tecnologia Nick Bilton, autor de um livro sobre o Twitter, lança a questão: “Em que raio estávamos a pensar” quando deixámos que estas plataformas alcançassem o poder que têm hoje?
- E por fim, para quem ainda não viu, aqui fica um vídeo de um robô humanóide a dar um salto mortal para trás.
4.0 é uma newsletter semanal dedicada a tecnologia, inovação e empreendedorismo. O conteúdo patrocinado nesta newsletter não é responsabilidade do jornalista. Críticas e sugestões podem ser enviadas para jppereira@publico.pt. Espero que continue a acompanhar.

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