O concelho virou-se para a água – na procura de turistas, novos moradores e investimentos, mas virou costas ao interior, que está o que sempre foi: esquecido.
São 10 horas, o sol promete luxúrias de Verão e as esplanadas do novíssimo edifício da marina de Gaia - um equipamento que custou mais de 8,5 milhões de euros - já estão bem compostas. À frente das esplanadas, as quatro filas duplas de embarcações também não estão mal preenchidas: os preços praticados (a partir de 120 euros mensais) são muito competitivos, o que tem feito equipamentos semelhantes (como o de Aveiro) vociferar contra os excessos de concorrência.
Excessos à parte, o certo é que a costa fluvial e marítima de Gaia impôs-se no Grande Porto como uma referência na área do turismo e do lazer - o que também tem a ver com o factor sorte de ser a plateia ideal para quem quer admirar o casco antigo do Porto, Património Mundial da Humanidade.
A situação da marina - bem à entrada da barra do Douro - não tem apenas a ver com a navegabilidade do rio: encastrada entre a nova zona de concertos ao ar livre e a vila da Afurada (um bastião de pescadores que teimosamente insiste em manter a sua identidade um pouco marginal e selvagem), promete ser a âncora de uma nova centralidade fluvial. Ou prometia: o horizonte da marina preenche-se com o rio e com o mar a perder de vista, o mesmo horizonte que deveria transportar para a felicidade os futuros moradores dos prédios que haviam de ser construídos atrás da marina. As terraplanagens foram feitas, as centenas de árvores que por lá havia seguiram destinos desconhecidos, as promessas de edificação (nomeadamente por parte do grupo BES e de investidores estrangeiros) estavam firmadas, mas de repente veio a crise: o imobiliário passou a ser o vírus destruidor das complexas engenharias dos balanços dos bancos e os terrenos por trás da marina permanecem desabitados, tendo apenas passado de floresta a deserto.
Apesar desta forte travagem no investimento imobiliário, a autarquia acena, para o período da sua governação (16 anos), com números surpreendentes: Gaia terá conseguido chamar a si investimentos que acumulam entre mil e 1.500 milhões de euros, conseguidos em grande parte porque o seu antigo presidente, Luís Filipe Menezes, se lembrou de fundar uma empresa municipal destinada especificamente à captação de investimento directo estrangeiro. Chamava-se Amigaia, foi dirigida por Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, e já foi extinta.
Parte muito substancial deste investimento - onde avultava também uma mega-loja do grupo sueco Ikea que nunca chegou a concretizar-se - seguiu para a margem do rio que se encontra em frente à Ribeira do Porto.
Excessos à parte, o certo é que a costa fluvial e marítima de Gaia impôs-se no Grande Porto como uma referência na área do turismo e do lazer - o que também tem a ver com o factor sorte de ser a plateia ideal para quem quer admirar o casco antigo do Porto, Património Mundial da Humanidade.
A situação da marina - bem à entrada da barra do Douro - não tem apenas a ver com a navegabilidade do rio: encastrada entre a nova zona de concertos ao ar livre e a vila da Afurada (um bastião de pescadores que teimosamente insiste em manter a sua identidade um pouco marginal e selvagem), promete ser a âncora de uma nova centralidade fluvial. Ou prometia: o horizonte da marina preenche-se com o rio e com o mar a perder de vista, o mesmo horizonte que deveria transportar para a felicidade os futuros moradores dos prédios que haviam de ser construídos atrás da marina. As terraplanagens foram feitas, as centenas de árvores que por lá havia seguiram destinos desconhecidos, as promessas de edificação (nomeadamente por parte do grupo BES e de investidores estrangeiros) estavam firmadas, mas de repente veio a crise: o imobiliário passou a ser o vírus destruidor das complexas engenharias dos balanços dos bancos e os terrenos por trás da marina permanecem desabitados, tendo apenas passado de floresta a deserto.
Apesar desta forte travagem no investimento imobiliário, a autarquia acena, para o período da sua governação (16 anos), com números surpreendentes: Gaia terá conseguido chamar a si investimentos que acumulam entre mil e 1.500 milhões de euros, conseguidos em grande parte porque o seu antigo presidente, Luís Filipe Menezes, se lembrou de fundar uma empresa municipal destinada especificamente à captação de investimento directo estrangeiro. Chamava-se Amigaia, foi dirigida por Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, e já foi extinta.
Parte muito substancial deste investimento - onde avultava também uma mega-loja do grupo sueco Ikea que nunca chegou a concretizar-se - seguiu para a margem do rio que se encontra em frente à Ribeira do Porto.
Buracos e crateras
Para quem segue da nova marina para a cidade, o primeiro impacto da zona nobre ribeirinha de Gaia são as enormes crateras abertas no terreno para a construção de uns hotéis que haveriam de conferir à cidade uma situação confortável em termos de alojamento para as resmas de turistas que são todos os dias ‘despejados' pela Ryanair e pela Transavia no Aeroporto Sá Carneiro. O problema é que, um dia, a banca decidiu ir cobrar as dívidas ao grupo hoteleiro Carlos Saraiva (CS). Resultado: o grupo, acusado há uns anos de emprestar um avião particular a Menezes para este fazer campanha eleitoral (interna, no PSD), entrou em falência. O antigo presidente da câmara afirmou há tempos que os donos do buraco (um fundo de investimento imobiliário) o querem preencher com um edifício, mas o certo é que, para já, é o buraco que lá está.
À sua frente estão uns edifícios abandonados onde, depois de um investimento privado de 25 milhões de euros, deveria ser instalado o Cais Cultural de Gaia: hotel, SPA, restaurante, lojas e... uma galeria de arte reservada à autarquia. As obras seguem dentro de momentos - ou talvez não.
À frente destes edifícios entaipados estão as quatro ou cinco edificações gémeas que, há mais de uma década, inauguraram a remoção dos antigos estaleiros de Gaia e a sua substituição por equipamentos de lazer. Os edifícios estão a precisar de manutenção, a linha de água que os circundava está seca há vários meses e as esplanadas (implacavelmente vazias por volta das 10h30, com o sol a manter a sua promessa de luz) emprestam ao local um ar caótico que veio substituir a harmonia urbana dos primeiros tempos. Logo ali ao lado, tão vazias como as esplanadas, as caixas metálicas do teleférico que liga a ribeira ao Monte da Virgem lá andam nas suas voltas; o custo do projecto ultrapassou dez milhões de euros - onde avultam quase 10% para expropriações, apesar de as primeiras projecções da câmara apontarem para uma factura de apenas 336 mil euros.
Mas a esperança não morre: até ao final do ano, a autarquia prevê gastar na área do desporto, recreio e lazer cerca de 14,6 milhões de euros - a que se somam 7,3 milhões no ordenamento do território e 3,6 milhões para o meio ambiente e natureza. São mais de 19% do orçamento das Grandes Opções do Plano (GOP) para o ano em curso, de cujas ‘gavetas' pode chegar alguma coisa para a manutenção.
Para quem segue da nova marina para a cidade, o primeiro impacto da zona nobre ribeirinha de Gaia são as enormes crateras abertas no terreno para a construção de uns hotéis que haveriam de conferir à cidade uma situação confortável em termos de alojamento para as resmas de turistas que são todos os dias ‘despejados' pela Ryanair e pela Transavia no Aeroporto Sá Carneiro. O problema é que, um dia, a banca decidiu ir cobrar as dívidas ao grupo hoteleiro Carlos Saraiva (CS). Resultado: o grupo, acusado há uns anos de emprestar um avião particular a Menezes para este fazer campanha eleitoral (interna, no PSD), entrou em falência. O antigo presidente da câmara afirmou há tempos que os donos do buraco (um fundo de investimento imobiliário) o querem preencher com um edifício, mas o certo é que, para já, é o buraco que lá está.
À sua frente estão uns edifícios abandonados onde, depois de um investimento privado de 25 milhões de euros, deveria ser instalado o Cais Cultural de Gaia: hotel, SPA, restaurante, lojas e... uma galeria de arte reservada à autarquia. As obras seguem dentro de momentos - ou talvez não.
À frente destes edifícios entaipados estão as quatro ou cinco edificações gémeas que, há mais de uma década, inauguraram a remoção dos antigos estaleiros de Gaia e a sua substituição por equipamentos de lazer. Os edifícios estão a precisar de manutenção, a linha de água que os circundava está seca há vários meses e as esplanadas (implacavelmente vazias por volta das 10h30, com o sol a manter a sua promessa de luz) emprestam ao local um ar caótico que veio substituir a harmonia urbana dos primeiros tempos. Logo ali ao lado, tão vazias como as esplanadas, as caixas metálicas do teleférico que liga a ribeira ao Monte da Virgem lá andam nas suas voltas; o custo do projecto ultrapassou dez milhões de euros - onde avultam quase 10% para expropriações, apesar de as primeiras projecções da câmara apontarem para uma factura de apenas 336 mil euros.
Mas a esperança não morre: até ao final do ano, a autarquia prevê gastar na área do desporto, recreio e lazer cerca de 14,6 milhões de euros - a que se somam 7,3 milhões no ordenamento do território e 3,6 milhões para o meio ambiente e natureza. São mais de 19% do orçamento das Grandes Opções do Plano (GOP) para o ano em curso, de cujas ‘gavetas' pode chegar alguma coisa para a manutenção.
As GOP para 2013
Por falar em GOP, refira-se que - para além da administração geral, que gasta 24,5% de um total de mais de 134 milhões de euros - parte substancial do orçamento está indexado à área da educação: 10,8 milhões para o ensino não superior e 11,7 milhões para os serviços auxiliares de ensino, o que acumula mais de 16% do total.
Também neste capítulo há esperanças que renascem: fonte bem colocada assegura que há algumas decisões tomadas pela câmara com grande aparato que acabam por ser suportadas pelos fornecedores. Ficará isso a dever-se ao facto de a autarquia de Gaia ser recorrentemente acusada de não pagar os seus compromissos a tempo e horas. Segundo (alguma) oposição, o tempo médio de pagamento já vai em 234 dias - o que, a ser verdade, contrasta com os 21 dias que a vizinha autarquia do Porto demora em média a honrar os seus compromissos.
Mas, quanto a contas, parece haver entre todos os candidatos uma grande incógnita. Não será por acaso que o político que mais vezes tem falado sobre o orçamento, as dívidas e os restantes avatares financeiros de Gaia seja... Rui Rio, o presidente cessante da autarquia do Porto. É que, neste capítulo, a expectativa é grande: é preciso primeiro tomar posse para ir à procura do que há para encontrar. Refira-se, aliás, que um dos candidatos mais bem posicionados para vencer as eleições já disse que iria fazer uma auditoria externa às contas. Aguardam-se os próximos capítulos. Adiante.
Deixando-se para trás as zonas marítima e ribeirinha, a cidade fecha-se sobre si própria. Reduzem-se os horizontes e o infinito é agora ocupado por um casario baço, sem graça - que ladeia a avenida mais central do burgo, que parece uma zona de experiências rodoviárias sem termo certo. É ela que faz a ligação entre o rio à quota alta e a auto-estrada que segue para Lisboa e, um pouco mais a meio, dá lugar à variante que permite chegar ao interior do concelho.
E aí é que as coisas se tornam difíceis: estradas em mau estado, desarranjos urbanísticos de difícil qualificação - com zonas industriais a ombrearem com vantagem com zonas residenciais - e um aspecto geral de abandono que, para todos os efeitos, torna difícil não dar razão aos que consideram que, por ali, há uma realidade a duas velocidades.
E é isto, estes dois mundos, que a partir de segunda-feira 30 de Setembro passará para as mãos de um dos oito candidatos à autarquia. São muitos e há-os para todos os gostos: candidatos de partidos políticos, candidatos independentes e até um candidato que a vasta literatura sobre teoria política ainda não conseguiu definir.
Por falar em GOP, refira-se que - para além da administração geral, que gasta 24,5% de um total de mais de 134 milhões de euros - parte substancial do orçamento está indexado à área da educação: 10,8 milhões para o ensino não superior e 11,7 milhões para os serviços auxiliares de ensino, o que acumula mais de 16% do total.
Também neste capítulo há esperanças que renascem: fonte bem colocada assegura que há algumas decisões tomadas pela câmara com grande aparato que acabam por ser suportadas pelos fornecedores. Ficará isso a dever-se ao facto de a autarquia de Gaia ser recorrentemente acusada de não pagar os seus compromissos a tempo e horas. Segundo (alguma) oposição, o tempo médio de pagamento já vai em 234 dias - o que, a ser verdade, contrasta com os 21 dias que a vizinha autarquia do Porto demora em média a honrar os seus compromissos.
Mas, quanto a contas, parece haver entre todos os candidatos uma grande incógnita. Não será por acaso que o político que mais vezes tem falado sobre o orçamento, as dívidas e os restantes avatares financeiros de Gaia seja... Rui Rio, o presidente cessante da autarquia do Porto. É que, neste capítulo, a expectativa é grande: é preciso primeiro tomar posse para ir à procura do que há para encontrar. Refira-se, aliás, que um dos candidatos mais bem posicionados para vencer as eleições já disse que iria fazer uma auditoria externa às contas. Aguardam-se os próximos capítulos. Adiante.
Deixando-se para trás as zonas marítima e ribeirinha, a cidade fecha-se sobre si própria. Reduzem-se os horizontes e o infinito é agora ocupado por um casario baço, sem graça - que ladeia a avenida mais central do burgo, que parece uma zona de experiências rodoviárias sem termo certo. É ela que faz a ligação entre o rio à quota alta e a auto-estrada que segue para Lisboa e, um pouco mais a meio, dá lugar à variante que permite chegar ao interior do concelho.
E aí é que as coisas se tornam difíceis: estradas em mau estado, desarranjos urbanísticos de difícil qualificação - com zonas industriais a ombrearem com vantagem com zonas residenciais - e um aspecto geral de abandono que, para todos os efeitos, torna difícil não dar razão aos que consideram que, por ali, há uma realidade a duas velocidades.
E é isto, estes dois mundos, que a partir de segunda-feira 30 de Setembro passará para as mãos de um dos oito candidatos à autarquia. São muitos e há-os para todos os gostos: candidatos de partidos políticos, candidatos independentes e até um candidato que a vasta literatura sobre teoria política ainda não conseguiu definir.
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